Em busca de um lugar seguro, semanas antes da data prevista para o parto, Yana procurou uma maternidade no município de Pokrovsk, na região de Donetsk, leste da Ucrânia.
"Estou aqui devido ao stress", disse à AFP num quarto partilhado com outras gestantes.
É a única maternidade da bacia do Donbass com uma unidade neonatal e incubadoras para bebés prematuros. Apesar dos alertas e bombardeamentos, não parou de funcionar desde a invasão russa há quase dois anos.
Lyakh vivia em Myrnograd, alguns quilómetros a leste, mais próxima da linha da frente. A Rússia começou a bombardear as duas cidades no dia 6 de janeiro, o que deixou 11 mortos, incluindo cinco crianças, conta Lyakh.
Assustada com os alertas de ataques aéreos e o risco de que o seu prédio fosse atingido, "corria do quinto andar até ao rés-do-chão", explica.
"Por isso vim para cá. Lá, corria risco de um parto prematuro", argumenta.
Em outro leito, Katia Brendyuchkova, aos oito meses de gestação, toma soro. "Estou em risco de parto prematuro", explica.
O marido não é soldado, trabalha numa mina de carvão em Pokrovsk.
20% de partos prematuros
A cidade fica a 30 quilómetros de Avdiivka, uma localidade estratégica que os russos tentam tomar há meses.
A maternidade transformou o porão em abrigo antibombas e recorre a geradores de energia quando a eletricidade é cortada. Muitos médicos e enfermeiros foram embora e os pacientes também reduziram porque muitos habitantes deixaram a região.
Liubov Datsyk, diretora do departamento neonatal, conta que o número de nascimentos caiu de uma média de mil no ano anterior à guerra para 500 em 2022 e 622 em 2023. Cerca de 20% dos bebés nasceram prematuros em 2023, o dobro dos 10% antes da guerra.
"O parto prematuro é causado por stress, o stress crónico. As nossas pacientes estão numa espécie de zona cinzenta e toda a região de Donetsk é uma zona de guerra", explica Ivan Tsyganok, diretor da maternidade.
O stress é agravado pelo fato de que os maridos da metade das gestantes estão na linha da frente. "As mulheres estão preocupadas com os maridos com os filhos", disse Datsyk.
Viúvas grávidas
Há casos de pais mortos na guerra enquanto as esposas estavam no hospital, contam os profissionais de saúde. Muitas vezes decidiram contar à mãe apenas após o parto, reconhece Datsyk, de 34 anos.
A invasão russa afeta as crianças antes mesmo de nascerem. "Quando temos filhos, queremos que tenham um futuro brilhante. Mas hoje, nascem e há uma guerra, disse Tsyganok à AFP.
Lyakh planeia fazer o parto em Dnipro, uma grande cidade 150 quilómetros a oeste. Depois, na companhia da filha, que se chamará Sofia, mudar-se-ão para a capital Kiev.
O marido, de 23 anos, combate atualmente em Avdiivka para conter as forças russas. Uma vez por semana, visita-a no hospital. "Deveria ser transferido (para mais perto de Kiev), para que passássemos mais tempo juntos", explica Lyakh.
Brendyuchkova, que já tem uma filha de três anos, está assustada com os constantes bombardeamentos e quer ir embora. "Quero ir para outro lugar", afirma. "Mas até agora, não há opção. Enquanto o meu marido tiver um trabalho estável, vamos ficar aqui", conclui.
Comentários