A maternidade, muitas vezes romantizada como um período exclusivamente de felicidade e realização, anda também de mãos dadas com uma série de desafios emocionais que merecem uma atenção urgente. Falar sobre saúde mental na gestação, durante o parto e no puerpério não é apenas necessário — é uma questão de saúde pública, tal como defendido pela Organização Mundial da Saúde. Os tabus e os julgamentos que ainda envolvem estes acontecimentos de vida significativos na vida de uma mulher, merecem que se quebre silêncios criando espaço para mudanças e para a implementação de práticas de verdadeiro cuidado.

Durante a gestação, o corpo da mulher transforma-se de forma visível. Já as mudanças que se operam na vivência interna e psicológica, essas são profundas, confusas, mas pouco visíveis e por isso raramente compreendidas e/ou adequadamente atendidas. Ansiedade, medo do parto, inseguranças sobre o futuro e alterações hormonais podem afetar significativamente o equilíbrio emocional e o bem-estar psicológico de futuras mães. A pressão para "sentir-se em estado de graça o tempo todo" silencia sentimentos legítimos de ambivalência, tristeza ou dúvida que muitas gestantes vivenciam. É essencial validar essas emoções e oferecer suporte psicológico desde o início da gravidez.

No momento do parto, o impacto emocional pode ser avassalador. Partos traumáticos, falta de acolhimento humanizado ou sensação de perda de controle podem deixar marcas que persistem muito para além desta fase. A presença de uma rede de apoio empática e a participação ativa da mulher nas decisões sobre o próprio corpo são fundamentais para preservar a sua saúde mental nesse momento que pode ter tanto de belo e mágico como assustador e traumático. É um lugar de total e imensa vulnerabilidade.

O período pós-parto, por sua vez, é uma verdadeira montanha-russa emocional associada ao famoso “baby blues”. Ao qual se acresce o cansaço extremo, a privação do sono, a amamentação, o isolamento social e a cobrança por ser uma “mãe perfeita” que contribuem para um risco elevado de depressão pós-parto — estima-se que em Portugal a depressão pós-parto afete entre 10% a 15% das mães.
Mesmo assim, muitas mães sofrem em silêncio, temendo serem julgadas como fracas, ingratas ou incapazes. Precisamos desconstruir esta cultura do silêncio e garantir o acesso a serviços de saúde mental específicos para o puerpério.

Promover a saúde mental na maternidade é cuidar da base emocional da nova família que se está a edificar. É investir no bem-estar de mães, dos bebés e das comunidades inteiras. A escuta acolhedora, o acompanhamento psicológico e o apoio social não são privilégios — são direitos. E reconhecer isso é um passo fundamental para uma sociedade mais empática e saudável.

Um artigo de Cláudia Adão, Psicóloga e Diretora-geral do Grupo Integral SM.