Por esta altura da pandemia, o mais provável é que já tenha tido que mediar uma enorme quantidade de conflitos entre irmãos. Com a reabertura das escolas dos mais pequenos, com os dias a ficarem mais longos e antecipação da mudança horária da primavera, a verdade é que parece que tudo vai ficando mais fácil. Por outro lado, o cansaço acumulado dos últimos meses pode bem-estar a ter a última palavra. Por isso, aqui ficam algumas sugestões para sobreviver à nossa própria prole, quando nos transforma a casa num campo de batalha impossível.
Vamos criar regras novas
Quando falamos de gestão de conflitos, temos que ter a noção que os nossos filhos brigam pelo acesso a um objeto que nem sempre estará disponível ou pela atenção dos pais. Num contexto em que estamos todos fechados no mesmo espaço, estes conflitos têm um maior potencial para ocorrer.
Uma das formas de resolver este tipo de conflitos é a antecipação! Se estamos a antecipar que os irmãos irão discordar em relação ao tempo que cada um deles tem acesso ao comando da TV nada como estabelecer regras sobre o tempo disponível para cada um deles e assim evitar uma discussão certa.
Definir horários e sistemas de distribuição de tarefas acaba por ser uma forma simples de manter a harmonia em casa. O mesmo se aplica em relação aos tempos de silêncio necessários para que os irmãos mais velhos possam cumprir as tarefas escolares. Garantir que existem tempos de silêncio no horário reduz a frustração de quem não vê os seus desejos atendidos no momento.
Assim, a cada criança deverá ser atribuída uma responsabilidade e um horário fácil de perceber. Essa responsabilidade deverá ser adequada à idade. Não se recomenda que os irmãos vigiem o cumprimento das responsabilidades uns dos outros. Esse papel pode ser atribuído ao irmão mais velho.
É preciso ser muito claro
Precisamente para os horários funcionarem, é preciso torná-los muito fáceis e práticos de consultar e compreender, mesmo pelos mais novos.
Assim, para os miúdos mais pequenos, usar temporizadores ou alarmes do telemóvel para cronometrar as trocas de responsabilidade das tarefas ou afixar horários coloridos pode ser uma forma de fazer compreender as obrigações de cada um.
Para os miúdos em idade escolar, pode ser interessante escrever um contrato de compromisso e convidar todos os irmãos a assinarem!
Para os adolescentes, é mais razoável uma abordagem mediada, baseada no diálogo entre as partes.
O reforço positivo
Quando os horários e sistemas de organização estão definidos, pode levar algum tempo até os miúdos conseguirem cumpri-los! Aqui é mesmo necessário o reforço positivo e evitar manter o foco no comportamento indesejável.
Esta estratégia é designada por “indiferença ativa”: quando deliberadamente ignoramos um comportamento que achamos indesejável e focamos a nossa atenção nos momentos em que se comportam de acordo com o combinado.
Claro que se, por algum motivo, se mantêm sem cumprir minimamente os horários e estrutura acordada, terão que ser chamados a atenção. No entanto, isto deve ser feito de forma clara e direta, idealmente num momento só, ao invés de múltiplas pequenas correções que são desgastantes para todos.
O reforço positivo não tem que ser complicado, pode ser um tempo de ecrã extra, pode ser um snack especial ou até pode ser mesmo e só um elogio sentido.
Para os miúdos mais pequeninos, o reforço positivo e a atenção de um elogio tem um papel muito importante na harmonia entre irmãos, especialmente se a ausência de conflito for apreciada sistematicamente.
Reconhecer que os filhos não são todos iguais
Especialmente agora, os seus filhos podem estar a lidar com diferentes tipos de ansiedade: enquanto o seu filho mais novo vai à escola e debate-se com o facto de querer ficar em casa com os pais e irmãos mais velhos, um adolescente pode estar a ressentir-se do afastamento dos amigos.
Esta assimetria pode gerar algumas discussões em torno das regras serem necessariamente diferentes, porque as idades dos miúdos são diferentes. E não, pode não ser justo.
Dar importância ao que é importante
Embora a atual situação de confinamento seja complicada, a verdade é que pode ser encarada como uma oportunidade única para os irmãos conviverem e cimentarem ainda mais os laços de amizade que queremos que durem uma vida.
Partilhar, esperar pela sua vez, resolver conflitos, tudo são oportunidades para crescer!
É importante elogiar interações positivas entre irmãos, como por exemplo, elogiar o facto de estarem a partilhar o mesmo brinquedo, a ler um livro juntos ou a jogar juntos na consola.
Por outro lado, é necessário promover atividades conjuntas precisamente para fortalecer a ligação: pode ser um noite de cinema e pipocas, pode ser um passeio de bicicleta em conjunto, pode ser cozinhar o jantar em equipa.
A verdade é que crianças com irmãos, ainda assim, apesar dos conflitos, têm uma posição de privilégio em relação aos filhos únicos, uma vez que continuam a dispor de um amigo para partilhar os dias!
Um artigo da médica pediatra Joana Martins.
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