“Ela é muito mandona!”. “Vivemos muito tempo juntas, então… às vezes não dá!”.
“Todas as manhãs lutamos pelos cereais, é como se não tivéssemos comida em casa!”.
"O meu irmão é um bocado impaciente. De manhã, está sempre a dizer “despacha-te!”.
Inês, 12 anos, queixa-se de que a irmã Sara, 17 anos, tem a mania que manda nela. “Quando estamos sozinhas, ela é quem manda”, afirma. Em sua defesa, Sara responde: “Ela é teimosa. Se calhar, as discussões surgem também pela diferença de idades. Temos opiniões diferentes”.
Hannah, 12 anos, e William, 13 anos, filhos de mãe portuguesa e pai inglês, revelam que houve uma altura em que discutiam muito. Os motivos eram vários. “Discutíamos sobre tudo. Se ele não me deixasse usar alguma coisa do seu quarto, se eu começasse a fazer alguma coisa e ele começava a embirrar…”, relembra Hannah. “Ainda há pequenas coisas sobre as quais discutimos, mas menos do que antes”, reforça William.
A pequena diferença de idades pode ser um motivo para maiores discussões. Os dois irmãos têm ainda um irmão mais novo, Alex de 4 anos, com quem têm uma relação diferente, como revela William: “Com o meu irmão mais novo, por exemplo, como temos uma diferença de idade maior, não gostamos das mesmas coisas, não queremos as mesmas coisas ao mesmo tempo, não há tanta discussão. Costumamos dizer que eu sou mais divertido com o meu irmão e a Hannah é mais responsável com ele”.
Rodrigo, 12 anos, Martim, 14 anos, e Sofia, 7 anos, também confessaram que nem sempre o dia a dia é fácil, principalmente no período da manhã. Martim relata, de forma divertida, o maior motivo de discussão entre irmãos lá em casa.
“É uma pequena luta, ridícula, agora que penso nisso. Todas as manhãs lutamos pelos cereais, é como se não tivéssemos comida em casa! É um ciclo vicioso! A solução para isto foi comprar uma caixa de cereais para cada um, mas mesmo assim acho que não está a resultar, porque estamos sempre desconfiados que andamos a roubar cereais uns aos outros!” (risos).
Tirando a “luta dos cereais”, Rodrigo aponta outras situações, principalmente em relação à irmã mais nova. “Ela, por vezes, é muito antipática e não me empresta quase nada”. Mas Rodrigo também confessa que quando precisa de ajuda, a Sofia mostra-se sempre disponível.
E os pais, qual o papel no meio destes pequenos conflitos entre irmãos?
No caso de Inês e Sara, os pais intervêm quando começam a ouvir os “gritos”. Geralmente, a solução é “mandam-nos calar e cada uma para seu lado”.
Na opinião do Martim, esta intervenção não é muito positiva. “Os pais intervêm porque cada conflito que eu tenho com os meus irmãos, ou eles queixam-se, ou começam a falar alto para chamar a atenção. Mas eu não gosto quando os pais intervêm, porque devemos saber resolver sozinhos”.
Conflitos à parte, a relação entre estes irmãos acaba por ter uma dose maior de amizade e interajuda. E o conflito é, como se costuma dizer, “sol de pouca dura”.
“Há sempre aquela tensão após a discussão, mas dura um dia só”, revela William.
“A amizade acaba sempre por prevalecer, porque o conflito é uma coisa que depois passa. Quando formos mais velhos não nos vamos lembrar destes pequenos conflitos, mas sim do lado bom”, reforça Hannah.
“As vezes resolvemos logo as coisas, outras vezes demora mais tempo. Mas nunca ficamos um dia inteiro sem nos falarmos” – diz Sofia.
Inês também enaltece as qualidades da irmã mais velha. “É uma boa irmã. Ela preocupa-se muito com os outros”. Sara retribui: “É uma pessoa muito doce para todos”. Além disso, Sara está prestes a finalizar o 12º ano e vai frequentar uma universidade longe de casa. Quanto ao afastamento da irmã, Inês não hesita: “Vou chorar todos os dias!”.
Os irmãos mais novos e mais velhos contribuem positivamente para o desenvolvimento da empatia um do outro
De acordo com um estudo realizado em fevereiro deste ano por investigadores das universidades de Calgary, Universite Laval, Tel Aviv e Toronto e publicado no jornal Child Development, os irmãos mais novos e mais velhos contribuem positivamente para o desenvolvimento da empatia um do outro.
"Embora se presuma que os irmãos mais velhos e os pais sejam as principais influências socializadoras no desenvolvimento dos irmãos mais novos (mas não vice-versa), descobrimos que tanto os irmãos mais novos quanto os mais velhos contribuíram positivamente para a empatia um do outro", revelou um dos autores do estudo.
Os investigadores também avaliaram se o desenvolvimento de empatia entre irmãos diferia como resultado das diferenças de idade e género entre irmãos (por exemplo, irmão mais novo / irmã mais velha versus irmão mais novo / irmão mais velho).
"Os efeitos permaneceram os mesmos para todas as crianças do estudo, com uma exceção: os irmãos mais novos não contribuíram para mudanças significativas na empatia das irmãs mais velhas", observa Marc Jambon, pós-doutorado na Universidade de Toronto, e que participou no estudo.
A influência dos irmãos mais velhos também foi mais forte nas famílias em que a diferença de idade entre os irmãos era maior, sugerindo que eles eram “professores” e exemplos mais eficazes, segundo o estudo.
Como William descreve: “(Ter) irmãos é uma experiência”.
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