A transição do jardim de infância para o primeiro ciclo do ensino básico requer um planeamento e uma atenção particular, pois tem impacto nos diferentes contextos da vida da criança.

O que é necessário para uma criança ter uma boa integração não se encerra nas aprendizagens académicas, implica um vasto leque de competências cognitivas, psicomotoras, emocionais, sociais e de autonomia, ou seja, se a criança é capaz de compreender, realizar e cumprir tarefas de forma autónoma e em grupo (como por exemplo, alimentar-se sozinha, vestir um casaco, calçar sapatos, conseguir esperar a sua vez numa fila, alternar a sua vez num jogo).

Como deve ser então a pré-escola para que a transição para o primeiro ano seja tranquila e segura para o seu filho?

A pré-escola é o tempo de excelência para o BRINCAR. Devem ser proporcionadas às crianças oportunidades de aprendizagem com base em brincadeiras, na descoberta e conhecimento do seu corpo através do movimento, dando-lhe liberdade para explorar o meio que a rodeia, seja com objetos, na natureza e com o outro.

Não obstante, existem pré-requisitos que, quando desenvolvidos e estimulados, se constituem como bons preditores da aprendizagem formal da leitura, escrita e cálculo. Isto não significa a introdução de aprendizagens formais na pré-escola, pois segundo estudos recentes, indicam que esta escolarização precoce não traz benefícios a longo prazo, nem diminui a lacuna educacional entre meios socioeconómicos distintos (Peter Gray).

As competências de pré-literacia devem ser promovidas através do brincar, de aprendizagens informais e do interesse que a criança demonstra na exploração do ambiente, guiado pela sua curiosidade. E é aqui que entra o psicomotricista como aliado do educador no processo educativo.

A contribuição da psicomotricidade nos anos iniciais é importante, pois é desenvolvida num contexto expressivo e relaciona-se diretamente com o corpo da criança, favorecendo assim, todas as etapas do processo do desenvolvimento.

Através do brincar as crianças além de se divertirem irão aprender a criar, inventar e a relacionar-se melhor com o meio social.

Sendo assim, fica claro que devemos destacar o desenvolvimento psicomotor da criança nas aprendizagens pedagógicas que servem de base para os pré-requisitos académicos.

Destaque para algumas características do desenvolvimento psicomotor preditores para as aprendizagens escolares

Um tónus muscular adequado permite à criança imprimir uma correta tensão muscular no manuseamento de objetos, como por exemplo, o uso do lápis para escrever.

Este controlo motor é fundamental desde o início da aprendizagem, para que a tensão não provoque um cansaço excessivo na realização da escrita.

O controlo postural adquirido resultante entre o equilíbrio e o tónus muscular permite à criança sentar-se corretamente, otimizando os processos de coordenação olho-mão. Uma boa postura reflete-se em mais conforto para a criança, aumentando assim a sua disponibilidade para as aprendizagens, e consequentemente, mais tempo de realização das tarefas.

Uma boa noção do corpo, permite o reconhecimento em si, no outro e a sua relação no espaço, que conduz à aquisição do conceito de lateralidade (definição/aquisição e reconhecimento de esquerda/direita).

A aquisição da lateralidade, a par da estruturação espacial (noção de: cima/baixo, perto/longe, frente/trás) são conceitos necessários, para a organização do texto na folha, para o sentido da escrita da nossa Língua (da esquerda para a direita e de cima para baixo) e para a correta distinção de letras semelhantes (como por exemplo, diferenciar letras como o p, b, q e d).

A estruturação temporal (noção de: primeiro/meio/último; antes/depois; ontem/hoje/amanhã) e de ritmo conduzem à aquisição do processo mecânico da escrita e da leitura, assim como, à capacidade de ordenar acontecimentos no tempo.

Estas competências possibilitam a realização de tarefas, como a escrita de um texto organizado, a compreensão de números ordinais, bem como, outras sequências presentes na matemática.

Por último, mas não menos importante, temos a coordenação olho-mão e as competências grafomotoras. O domínio destas competências possibilita a realização do ato motor da escrita (por exemplo, a manipulação e preensão do lápis, o posicionamento da mão coordenado com a visão).

Estas competências são promovidas através de atividades como amassar plasticina, rasgar papel, recortar com tesoura, abotoar e desabotoar os botões, colorir com diversos materiais dentro dos limites, atar atacadores e enfiamentos.

De uma forma geral, um desenvolvimento psicomotor harmonioso será um bom preditor nas aprendizagens académicas. Este percurso deverá respeitar o tempo próprio de cada aquisição consoante o perfil da criança.

Texto: Raquel Mata e Carolina Costa - Educação Especial e Reabilitação Psicomotora do Centro PIN