A adolescência é só por si um período repleto de desafios, em que de repente um adolescente fica entre a criança que foi e o adulto que esperam que se torne, em que, por vezes, a ideia de quem se é ainda está muito difusa. Mas, ao mesmo tempo que um adolescente está a tentar conhecer-se e integrar-se consigo próprio, estamos a fazer-lhe muitos apelos, quer escolares, quer sociais ou familiares, que fazem com que, muitas vezes, se torne muito difícil para uma adolescente encontrar-se.
Assim, é comum cruzarmo-nos com adolescentes que à primeira vista parecem muito seguros de si e procuram palco para brilharem, mas que, num olhar mais profundo parecem ser incapazes de ser eles próprios, como se, passassem os dias a procurar corresponder a uma imagem de si que não é real, como se, no fundo, tivessem permanentemente a ideia de que aquilo que são não chega para todos os seus desafios e, no limite, para se sentirem amados.
E, sempre que passamos o tempo na busca de uma identidade que consideramos ser a expectável, impedimos os nossos rasgos mais espontâneos e bloqueamos tudo aquilo que de bonito vive dentro de nós. Assim, na ânsia de corresponder a um ideal, fugimos de nós e quando o fazemos criamos um vazio que mais não representa do que angústia e que nos contamina aos poucos.
De passo em passo, esta “fuga para a frente” que parece à primeira vista permitir a estes adolescentes um equilíbrio e acima de tudo o amor dos outros, acaba por torna-los mais rígidos e controlados, porque à medida que controlam tudo o que se passa à sua volta conseguem proteger-se.
No entanto, ninguém aguenta controlar-se o tempo todo e, em períodos de maior tensão, estes adolescentes tendem a quebrar, seja, por exemplo, sob forma de ansiedade intensa, seja sob forma de violência em contexto familiar, seja sob forma de isolamento. E, de repente, temos adolescentes, em que sempre parece estar tudo bem, mas ‘tem períodos que não o reconhecemos’, neste contexto, estes períodos que tornam uma adolescente irreconhecível, mais não representam, que a quebra emocional por excesso de controlo, com vista a corresponder às expectativas.
Por tudo isto, é essencial darmos espaço aos adolescentes para que possam ser eles próprios, com todos os seus lados, isto é, com os seus lados bonitos e capazes e com os seus lados mais assustados e mais frágeis.
E, é no momento em que um adolescente deixa de precisar de corresponder a um conjunto de expectativas - auto impostas, ou não - que se torna capaz de se encontrar, de crescer em direcção aos seus sonhos e de ser de forma plena independentemente do que os outros esperam dele e, é também aí, que se torna capaz de elevar ao máximo a sua performance e de corresponder a si próprio.
Por tudo isto, é urgente que pais, famílias, escolas e sociedade, criem espaço para que cada adolescente à sua maneira e de forma singular, possa ser ele próprio, expressar a sua identidade com todas as suas potencialidades e principalmente, ser amados exatamente por aquilo que são.
As explicações são das psicólogas Cátia Lopo e Sara Almeida da Escola do Sentir.
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