As histórias infantis das princesas e dos príncipes que povoaram a nossa infância terminam sempre com um casamento e com um remate final que nos tranquiliza, sugerindo que viveram felizes para sempre. Mas, na vida real, esse viveram felizes para sempre implica muito trabalho, muitas cedências e também muitas conquistas. O encontro de dois seres que se apaixonam é sempre o princípio de um longo e sinuoso caminho, construído passo a passo, que implica muito investimento de ambas as partes.
A caminhada conjunta não se rege, nem podia, por uma receita única que funciona de igual forma para todos os casais. Crescer a dois e conseguir fazer evoluir uma relação é o resultado de uma dinâmica única de cada casal, uma descoberta feita em conjunto. Esta caminhada é feita de aprendizagens em sintonia, mas, sobretudo, das individualidades próprias de cada um que geram a atração recíproca. Assumir os gostos do companheiro ou só fazer o que o outro quer nunca é o caminho certo para uma relação duradoura.
Diana Gaspar, psicóloga e autora do livro "Crónicas de uma vida que se vive todos os dias", alerta, porém, que aquilo que funciona para uns não funciona para outros. "Não devemos, por isso, comparar a nossa relação com a dos nossos amigos, por exemplo. Cada casal pode e deve encontrar o seu próprio modelo, aquele que melhor funciona para si", adverte. Para a especialista, há que perceber que na base de uma relação está a aceitação de que nunca se ganha se não se perder alguma coisa. Tem de haver "investimento de tempo e investimento emocional", defende.
"Não posso semear algo e esperar que cresça sem regar", afirma. "Os relacionamentos precisam de tempo, de cuidados diários, de diálogos, de silêncios, de olhos nos olhos, de roupa aprimorada, de roupa caseira e da ausência de roupa. Precisa de estar em casa e de sair à rua, de diálogos e de silêncio, de verdade e de partilhas e, acima de tudo, de um projeto construído pelos dois", escreve a especialista num das suas crónicas. E é isto que, para Diana Gaspar, representa o tal investimento que é, imperativamente, necessário.
O que deve fazer para manter a individualidade
Uma comunicação fluida e aberta é, a par do investimento pessoal exigido, outra das fundações essenciais para que uma relação floresça e se torne sólida, sobretudo no que respeita à intenção de ter um projeto de vida comum. Só sentindo que vai construir algo em conjunto é que o casal vai investir nesta difícil e trabalhosa empreitada. É importante comunicarem, falarem e darem-se a conhecer mutuamente para crescerem como casal. Esse intercâmbio está, todavia, longe de permitir cumprir esse desígnio sem mais nada.
Fazer cedências em prol dos dois, prescindir de algumas liberdades, como sair todas as noites com os amigos por exemplo, em função do crescimento da relação é um fator decisivo, mas acabar com a sua individualidade para agradar ao outro também não é o melhor caminho. "É tão importante investir na relação como investir no crescimento individual, isso é uma certeza", esclarece Diana Gaspar. Esta psicóloga alerta que há erros que devem ser evitados a todo o custo nas relações que se pretendem solidificar.
No início, existe uma tendência, que é considerada natural, para o casal viver um para o outro, isolando-se um pouco do mundo em prol da relação. Envolvem-se tanto que, com o tempo, a personalidade individual tende a desaparecer. E, num primeiro momento é, até, algo normal. Mas é importante combater esta anulação inicial assim que surge porque a subjetividade e a individualidade de cada um dos elementos do casal é fundamental para criar desejo. "A admiração mútua tem de ser alimentada e, para isso, não nos podemos subjugar à vontade do outro, pois é esta admiração que alimenta a paixão e o desejo", aconselha.
Se, pelo contrário, a longo prazo, cada um for deixando de fazer as suas coisas, abandonando os seus interesses para viver apenas para a relação, tentando sempre colmatar as necessidades do outro, acaba por perder a sua essência e isso mata a magia inicial do relacionamento, aquilo que uniu o casal, sublinha ainda Diana Gaspar, que sugere vários programas. "Fazer coisas sozinhos, jantar com amigos, fazer planos em separado, ajuda a que haja distanciamento e dá lugar à saudade", refere a especialista.
A magia que se vai perdendo com o tempo
Quando estamos juntos a todas as horas do dia ou grande parte delas e contamos tudo um ao outro, agora com as redes sociais e com os telemóveis isso está sempre a acontecer, acabamos por ter menos assunto de conversa e instala-se a rotina", insiste Diana Gaspar. O desconhecido, a descoberta do parceiro, é um fator de atração importante e, quando não há experiências novas, a monotonia invade o casal. "Se não há distância relacional, não se aguça o desejo e a relação acaba por sufocar", explica.
Há ainda que ter cuidado para não deixar o relacionamento cair no perigo da manipulação. Frases como "Se vais sair com os teus amigos, é porque já não gostas de mim" ou "Se preferes ir ver um jogo de futebol, é porque deixaste de me amar" são habituais nalguns casais. Com isto, surge o medo da perda e, consequentemente, a dependência do outro. Esta situação não ajuda ao fortalecimento da relação, até porque, no fundo, este desequilíbrio não é saudável para nenhuma das partes envolvidas.
A explicação é simples. "Devemos perceber que temos de gostar de nós para que o outro também goste. Há que ter a consciência que não é o amor de alguém que nos vai trazer aquilo que nos falta, não é aquela relação que nos vai dar tudo aquilo de que precisamos. Isso é algo que temos de encontrar em nós mesmos. E dizer que não não faz com que o outro goste menos de nós. Por esse motivo, também temos de saber dizer que não quando é necessário para que a relação se fortaleça", acrescenta ainda a psicóloga, autora do livro "Crónicas de uma vida que se vive todos os dias", que recomenda uma série de estratégias para quebrar a monotonia.
Como qualquer relação precisa de desejo, de atração e de sensualidade, para crescer e para se tornar (mais) forte e saudável, Diana Gaspar alerta que um relacionamento precisa de vida sexual e, para tal, há que alimentar o desejo e usar doses de criatividade, combatendo a rotina. Para isso, para além de se socorrer de algumas das posições sexuais que encontra na galeria de imagens que se segue, para ir variando regularmente, é necessário também comunicar, sem tabus nem preconceitos, as vontades um do outro.
"O desejo precisa ser alimentado, de ser cuidado e de ser renovado com doses certas de criatividade. A qualidade da relação também é determinada pela qualidade da sua dimensão sexual", afirma a especialista. Isto torna-se ainda mais importante quando há filhos. Os pais necessitam de compreender que têm de continuar a crescer como casal e que não podem viver exclusivamente para os filhos. Momentos a dois, quebrando a monotonia e a rotina, são, nestes casos, ainda mais importantes. Mentalize-se disso...
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