Os primeiros sinais a delatar o envelhecimento do rosto são os papos nos olhos e o abatimento das pálpebras. Quando isto acontece, por fatores hereditários e pela ação implacável dos anos, não existe remédio natural que resolva a situação. Nem os melhores cremes nem tratamentos nem umas horas de sono a mais farão este milagre. A única solução para devolver a juventude perdida ao seu olhar é a cirurgia das pálpebras ou blefaroplastia.
Trata-se de uma espécie de lifting de olhos que alcança resultados espetaculares. Quem sabe se não foi por isso que se tornou numa das operações de estética facial mais procuradas nos últimos anos. A cirurgia das pálpebras, conhecida tecnicamente como blefaroplastia, é uma cirurgia que remove o excesso de gordura e de pele enrugada e caída da pálpebra superior ou inferior.
Contudo, apesar de se conseguir uma melhoria das rugas à volta dos olhos, a blefaroplastia não corrige as rugas das maçãs do rosto, os chamados pés de galinha, nem a queda das sobrancelhas, razão pela qual pode ser necessário conjugá-la com outros tratamentos. Por exemplo, se o problema da pálpebra superior for acompanhado pela queda das sobrancelhas, pode recorrer-se a um levantamento da fronte.
Para apagar os pés de galinha, o pelling químico a dermoabrasão ou o laser são boas opções. As olheiras podem ser tratadas com um pelling químico. Para sabermos mais pormenores desta intervenção, falámos com João Baptista Fernandes, cirurgião plástico e diretor clínico da Clínica de Todos-os-Santos, em Lisboa.
O que deve saber antes da operação
Tudo o que disser respeito ao seu estado de saúde. Vai-lhe perguntar se fuma, se tem alergias a medicamentos, se usa óculos ou lentes de contacto... Também quererá saber se tem alguma doença crónica e se toma alguma medicação. A seguir, decidirá quais os exames clínicos oportunos para garantir que a intervenção seja totalmente segura. Os exames básicos são um electrocardiograma, uma radiografia ao tórax e uma análise completa ao sangue.
Em que circunstâncias é que não a deve fazer
A cirurgia das pálpebras pode pressupor um risco se tiver problemas na tiróide, pressão arterial alta, diabetes ou doença cardiovascular. Também é arriscada no caso de se sofrer de glaucoma ou descolamento da retina, pelo que pode ser necessária uma consulta de oftalmologia antes da blefaroplastia.
O estudo das suas pálpebras
Depois de lhe explicar as características da operação, os riscos e complicações e o seu custo, o cirurgião leva a cabo um estudo exaustivo das suas pálpebras para dizer que tipo de blefaroplastia é a mais adequada em função das suas características pessoais. Vai tirar-lhe várias fotografias e realizar um exame físico cuidadoso para poder avaliar a elasticidade e o tónus do músculo orbicular, encarregue de controlar o movimento das pálpebras.
Se este estiver demasiado flácido, a cirurgia pode fazer com que o olho tenha problemas em fechar totalmente. Nestes casos, é necessário explicar aos pacientes que não é possível eliminar completamente as rugas e a flacidez do músculo, ou que seria necessário recorrer a uma cirurgia adicional, a cantopexia, para esticar a pálpebra.
Veja na página seguinte: O estudo das lágrimas e da simetria do rosto
O estudo das lágrimas e da simetria do rosto
A capacidade de lágrima, para detetar o olho seco. Cada vez mais frequente, sobretudo nas mulheres, que produzem uma lágrima muito espessa ou escassa. Nestes casos é preciso ter um cuidado especial no pós-operatório, para evitar a secura corneal. Isto consegue-se utilizando colírios especiais e redobrando as medidas de protecção do olho. A simetria natural do rosto para mostrá-la ao paciente, com fotografias em grande plano ou com um espelho.
O paciente nunca vai olhar tanto para as pálpebras como depois da operação, por isso é importante que veja a assimetria prévia para não pensar depois que é resultado da cirurgia. Se existirem assimetrias importantes, são corrigidas. Se forem naturais, mantêm-se.
Quando se deve operar
Não existe uma idade pré-determinada para realizar este tipo de intervenção, já que o processo de envelhecimento nesta zona do rosto varia muito de pessoa para pessoa. Depende da qualidade da pele e dos tecidos subcutâneos e tem uma importante componente hereditária. Existem famílias que têm papos e olheiras precocemente e precisam desta operação aos 30 anos. Mas são casos excepcionais, nos quais se corrige apenas a pálpebra inferior.
O mais habitual é que os pacientes tenham entre 35 e 55 anos. O recomendável é submeter-se a esta cirurgia quando os sinais de envelhecimento nos olhos são evidentes, piorando o aspeto do rosto, que fica com um ar cansado, triste, doente ou mesmo envelhecido.
As vantagens do internamento hospitalar
A blefaroplastia é ambulatória, uma vez que só precisa de anestesia local. Mas há especialistas que defendem o internamento, uma vez que os pacientes que se levantam da cama da sala de operações e vão para casa desenvolvem hematomas com maior facilidade. Caso contrário, se ficarem na cama e estiverem 10 ou 12 horas em repouso, é menos provável que esta complicação se apresente.
Além disso, as nódoas negras demoram cerca de duas semanas a desaparecer, aumentando o período de recuperação e tornando-o mais traumatizante, uma vez que os olhos ficam inchados e roxos. É certo que uma cirurgia é muito mais aliciante se se disser ao paciente que, passado quatro horas, está em casa. No entanto, o mais importante é oferecer-lhe segurança, uma recuperação rápida e bons resultados.
O que deve fazer antes de se operar
Antes de realizar este procedimento cirúrgico, deve deixar de fumar, pelo menos, duas semanas antes. Isto influencia positivamente a cicatrização e regeneração dos tecidos que vão ser modificados. Não se trata de uma cirurgia em que seja obrigatório deixar de fumar, como por exemplo num lifting, mas é muito recomendável.
Veja na página seguinte: A operação passo a passo
A operação passo a passo
Dura, aproximadamente, uma hora e é levada a cabo numa sala de operações. Requer a assistência de um médico anestesista, encarregue de manter o paciente sedado e de controlar os seus sinais vitais. Os olhos protegem-se com umas lentes para evitar danos na córnea. Combina-se anestesia local com sedação, para evitar que mexa as pálpebras de forma reflexa. Só se utiliza anestesia geral em casos raros de homens com muita pele, muitas olheiras e muitos papos.
Na pálpebra superior, faz-se uma incisão seguindo a linha da prega natural, para que a cicatriz não se note. Retiram-se as bolsas de gordura e o excesso de pele. A incisão é fechada com uma sutura muito fina. Na pálpebra inferior, retiram-se os papos através de uma incisão na mucosa interior da pálpebra que evita uma cicatriz visível. A incisão não requer sutura. Se existir excesso de pele, elimina-se através de uma incisão externa debaixo das pestanas, de forma a que a cicatriz fique escondida por estas.
Se tiver a linha da olheira marcada, pode-se distribuir a gordura das bolsas na profundidade do sulco para a dissimular. Trata-se de uma técnica complexa e com resultados pouco predizíveis. Há também uma opção mais segura, chamada lipoaspiração de Coleman Preenche-se a linha da olheira externamente, injectando gordura do próprio paciente, tratada e purificada na sala de operações. Usam-se umas agulhas muito finas e fazem-se múltiplas micro-punções ao longo do sulco para o dissimular.
Quanto custa a cirurgia
Dependendo dos casos, uma intervenção destas pode custar-lhe entre 2.000 € e 3.000 €, incluindo internamento hospitalar. Os preços podem, contudo, variar em função da clínica selecionada e/ou do profissional contratado.
Os cuidados básicos do pós-operatório
Depois da intervenção, vão-lhe aplicar uma pomada lubrificante e antibiótica nas zonas tratadas e protegem-lhe os olhos com umas gazes embebidas em soro fisiológico. Não são vendados para evitar ansiedades e claustrofobias. As gazes húmidas são suficientes para proteger as suturas e permitem que o paciente se certifique que a sua visão está bem, apesar de um pouco turva por causa da pomada.
Passados dois dias, retiram-lhe parte dos pontos e, três dias depois, os restantes. Vão-lhe prescrever uma série de pomadas, colírios e lavagens com soro, para manter os olhos e as pálpebras em óptimas condições à medida que vão cicatrizando. Durante as primeiras semanas, verá umas cicatrizes avermelhadas; à medida que os dias vão passando, o rubor vai desaparecendo, até só serem visíveis umas linhas esbranquiçadas que ficam dissimuladas pela prega da pálpebra.
Os incómodos que vai sentir
Inflamação e tensão, que vai dificultar abrir e fechar as pálpebras normalmente, é um desses incómodos, tal como secura nos olhos, comichão e lacrimejo intenso durante os primeiros dias. É também possível o aparecimento de hematomas nas pálpebras, que desaparece, todavia, passado 15 dias. A lista inclui ainda sensibilidade à luz durante as duas primeiras semanas e visão turva durante os dois primeiros dias.
O que fazer para uma recuperação ideal
Passe 10 a 12 horas no hospital, para evitar o aparecimento de hematomas. Este é um dos primeiros conselhos dos especialistas. Já em casa, faça repouso visual nos três primeiros dias. Não trabalhe com o computador, não leia, não veja televisão, não force o olhar durante muito tempo nem cozinhe. De resto, pode fazer a sua vida doméstica normalmente. Andar pela casa, tomar duche, sentar-se à mesa...
Durante esta fase, tente mexer as pálpebras de forma natural. Ao princípio vai custar-lhe abrir o olho totalmente por causa da inflamação, mas passado quatro ou cinco dias o inchaço começa a reduzir e o problema resolve-se. Espere entre cinco a sete dias para ir à rua, sempre com óculos de sol. Para fazer uma vida normal entre pessoas que sabem que foi operada, espere 10 ou 15 dias. E para uma vida social na qual não se note nada, o tempo de espera é de cerca de quatro semanas.
Como (não) dormir
Durma com a cabeceira elevada para favorecer a drenagem linfática e reduzir a inflamação sem precisar de recorrer a anti-inflamatórios. Não é aconselhável usar duas almofadas porque, desta forma, consegue dobrar o pescoço, quando o que se pretende é elevar o tronco todo. A forma mais simples é colocar duas mantas dobradas debaixo do colchão para levantar a cabeceira. Evite ainda usar lentes de contacto durante duas semanas.
O que vai conseguir
Que os seus olhos recuperem um aspeto mais rejuvenescido, o que confere ao rosto uma imagem mais jovem e desperta. Os efeitos podem prolongar-se durante anos, apesar da duração depender das suas características pessoais, estado da pele, qualidade dos tecidos, idade em que a operação é realizada... Uma blefaroplastia feita numa pessoa com mais de 45 anos é, provavelmente, uma operação definitiva. Por isso, é importante fazê-la a tempo, antes que os sinais de envelhecimento sejam demasiado dramáticos.
As complicações que podem surgir posteriormente
Quando se entrega nas mãos de um bom cirurgião tem a certeza de que a operação vai ser realizada com os melhores meios, pelo que é raro surgirem complicações. No entanto, estas nunca podem ser descartadas do todo, razão pela qual deve estar informada sobre a sua existência:
- Quistos da sutura
Podem ser prevenidos retirando a sutura ao quarto dia.
- Cicatrização hipertrófica
É muito rara e previne-se se o cirurgião evitar que a cicatriz da pálpebra superior chegue até à pele do nariz.
- Alterações da pigmentação
São excecionais com as habituais medidas preventivas.
- Conjuntivite
Provoca uma sensação semelhante à de ter areia no olho e deve ser tratada com colírios antibióticos.
- Assimetrias
Costumam ser pequenas e são provocadas por uma cicatrização desigual.
- Pálpebra inferior repuxada para baixo
Esta situação pode implicar uma nova cirurgia.
- Cegueira
É a complicação mais temida, mas extremamente rara (apenas 0,04% dos casos). A sua causa é um hematoma retrobulbar (hemorragia causada por pressão numa artéria do olho) que se pode produzir quando se alcança a órbita para retirar as bolsas de gordura. No entanto, é raro acontecer durante uma blefaroplastia e ainda mais raro provocar cegueira.
Texto: Madalena Alçada Baptista
Comentários