Não dá há como negar que o mundo, se ainda não mudou completamente, não tardará a mudar. E os hábitos de consumo também.
Num momento em que a sociedade mundial precisa, apenas, de produtos de primeira necessidade, acredita-se que as compras por impulso, os hábitos de consumo por simples satisfação e prazer e a ostentação desmedida sejam repensados de maneira drástica, daqui para a frente.
De acordo com a Câmara Internacional do Comércio, o setor da moda está entre as três áreas mais impactadas pela pandemia ocasionada pela covid-19, perdendo espaço, apenas, para os setores de aviação e turismo.
A indústria da moda seguia um crescimento exponencial e caminhava a passos largos. Mas com a chegada da pandemia, tudo mudou. E, de facto, o momento atual está a obrigar a uma mudança real nos hábitos de consumo.
Todavia, se por um lado há uma preocupação com a mudança de comportamento do consumidor e um profundo desaceleramento do setor, por outro, este pode ser um momento positivo para o surgimento de uma outra classe de compradores: o consumidor consciente.
Para Jaadi Fonseca, Designer e Consultora de Moda com foco em impacto social e graduada pela famosa escola de moda Parsons, o período da pandemia está a servir para "girar a chave de ignição" e fortalecer uma tendência que já estava em curso.
"É possível observar que a comunidade de consumidores conscientes está a crescer. Estes consumidores estão agora a responder negativamente às campanhas de marketing superficiais, e à procura de informações factuais para decidir em quais empresas irão confiar. São estes consumidores mais atentos que podem facilitar a transição para hábitos de consumo alternativos", comenta a especialista.
Para Jaadi, a covid-19 é um catalisador que está a provocar estas fortes mudanças nos hábitos da sociedade e, por conseguinte, no setor.
"O consumo de itens de moda estava a crescer exponencialmente antes desta crise. Mas parece que muitos fatores estão a influenciar os novos padrões de consumo", ressalta.
"Desde a crescente massa de consumidores conscientes que influenciam o mercado até a fragilizada cadeia de produção atual. Já é possível notar novos valores, métodos de produção inovadores e melhores hábitos de consumo e produção", conclui.
Empresas ainda mais responsáveis na sua linha de produção
Sabe-se que a covid-19 acabou por antecipar iniciativas que já se encontravam em andamento. Basta observar a adesão ao trabalho remoto, o aumento da educação à distância, entre outras.
Agora, ao que tudo indica, parece que, do ponto de vista social, a produção e consumo mais responsável também ficará ainda mais forte neste período de transformação.
Numa palestra realizada pouco antes da pandemia, no evento Fashion Innovation, Simon Collins, fundador e CEO da WeDesign.org, ressaltou a necessidade de as empresas pensarem de uma nova maneira. Para ele, não basta reduzir a produção, mas produzir de maneira mais inteligente para não criar produtos desnecessários.
A especialista Jaadi Fonseca também partilha da mesma visão de Collins e acredita que o cenário atual pode criar um sentimento positivo sobre a comunidade global, uma transição que pode fazer a consciencialização transformar-se em ação; uma reavaliação de prioridades e necessidades e seriedade quando se trata de transparência suportada por dados.
"Ainda é difícil prever como a inovação prosperará. E como uma economia global em crescimento e questões socioambientais funcionarão juntas", afirma. "Mas de facto, houve um aumento na economia de reaproveitamento e reciclagem em vários setores, mas esse aumento ainda está longe de se tornar a norma. Parece que as pessoas estão tomar consciência do facto de que, para mudar os sistemas insustentáveis que parecem maiores que nós, precisamos da disciplina e do apoio de todos para resolver este problema global", complementa a designer.
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