Ricardo Pereira - responsável pelo RUA - recebeu-nos à porta com a delicadeza e a humildade natural de um grande conhecedor da arte de bem acolher.
Chegámos numa quarta-feira às 19h30 - cedo para quem janta em Lisboa. Em dias da semana nunca se sabe o que nos reserva o trânsito lisboeta. Começámos por um mojito e um cocktail, ambos sem álcool (mas juro que nem parecia), até porque o dia seguinte também é de trabalho.
"Vivi durante muitos anos em Londres e foi lá que me inspirei para criar este espaço que é de Lisboa, mas que está aberto ao mundo", disse-nos Ricardo Pereira enquanto tratava das bebidas.
O RUA pretende servir à mesa memórias, histórias, sabores e amores do mundo. A aventura gastronómica, que tem como ponto de partida o coração de Lisboa, consegue catapultar o cliente para as ruas de Lima, no Peru, ou para os prados dos Açores, os mercados de Londres ou os restaurantes do sudoeste asiático.
"Pretendemos, através das cores e cheiros das várias partes do mundo, fornecer sabores sem sair da mesa, apelando às melhores e mais saborosas memórias de uma rua, eventualmente, visitada. A heterogeneidade e multiculturalidade têm um papel na definição da nossa rua, na rua que é de todos nós, ao morarmos todos nesta utopia, na qual nos juntamos e trocamos ideias", conta Ricardo Pereira que juntamente com Yasmine Van-Dúnem, esposa e sócia neste projeto, conduzem os destinos deste restaurante feito para um consumidor cosmopolita.
"Eu sou o sonhador e ela é a pessoa das contas que me põe os pés assentes ao chão", admite Ricardo Pereira. "Inspiramo-nos na partilha, em viagens, sítios, pessoas, experiências, música e arte. Naquilo que nos define enquanto humanos", acrescenta, salientando que o conceito do restaurante passa pela partilha.
"A ideia é que os pratos sejam para duas ou mais pessoas, para que as pessoas possam partilhar a mesma refeição e sentir essa experiência em conjunto", explica.
Na mesa, provámos de tudo e queremos muito voltar. Os pratos mudam ao longo do ano, adaptando-se às exigências da época e do cliente. Começámos pela Quinoa Popcorn, umas croquetas deliciosas feitas a partir de quinoa, queijo cheddar e creme de malagueta. Uma combinação improvável, mas que surte efeito. As papilas gustativas adoraram.
Seguiu-se o Taco Time, que é uma boa aposta para quem se quer iniciar no peixe cru. É um ceviche de polvo e camarão com maionese chipotle. Foi a primeira explosão de sabores na boca.
Mas neste restaurante o rei é mesmo o Lima's Ceviche, um prato com garoupa e lula empanada, leite tigre, cebola roxa e milho cancha, inspirado na capital peruana, mas fresco e vindo diretamente do Atlântico. Dá vontade de fazer "pausa" e degustar mais alguns minutos o encontro dos ingredientes no paladar.
Também provámos uma presença assídua do menu - o Tártaro, uma das especialidades preferidas dos repetentes. Com lombo novilho açoriano, espuma de mostarda, trufa de verão e chips de batata doce e mandioca, este prato não o vai deixar ficar nada mal - embora eu não seja o maior apreciador de mostarda - e é perfeito depois do ceviche.
Terminámos a viagem pelos pratos principais com um bao delicioso - o What The Duck. De repente voltei a Londres, onde há uns anos comi o primeiro bao da minha vida no mercado de Spitalfields. Feito com pato confitado, puré de pimentos assados e cebola caramelizada, este prato perfeito para dividir a dois fecha em grande uma noite de odisseia gastronómica sem sair da mesa.
Mas como as Framboesas são famosas em Lisboa, tivemos que arranjar espaço para esta sobremesa que faz jus ao nome. É uma mousse de chocolate de framboesa, streusel de cacau salgado e pistácios e é imperdível.
Fique com uma galeria de fotos com os pratos que provámos
O jornalista Nuno de Noronha experimentou o restaurante RUA - Príncipe Real, acompanhado por uma amiga aficionada da gastronomia, a convite de Yasmine Van-Dúnem e Ricardo Pereira, proprietários do espaço. Quando é que nos chamam outra vez?
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