Os verdadeiros apreciadores de vinho recorrem a várias técnicas para garantir que o degustam na sua plenitude. Afinal, beber vinho não é sinónimo de o saborear.
Assim, Beatriz Palhais, enóloga da PMC Wine & Food, empresa dedicada à comercialização de vinhos nacionais, traz-lhe alguns esclarecimentos caso queira degustar um vinho como um verdadeiro profissional.
Primeiro, deve ter em conta dois aspetos que são cruciais: o copo, que deve ser de vidro e incolor, de pé alto e com uma boca mais estreita, evitando que os aromas não se dissipem tão facilmente, e a temperatura, que está normalmente recomendada no contrarrótulo da garrafa.
Caso tal não se verifique, o ideal é servir os vinhos tintos entre os 16 e os 18 graus e os brancos entre os 9o e os 12o. Outra questão importante é que não se esqueça de agarrar o copo pelo pé, de forma a não alterar a temperatura do vinho e a permitir uma melhor observação e prova do mesmo.
Estando todas estas condições reunidas, está na altura de dar início à prova, que se divide em 3.
Prova visual
Incline o copo, de preferência sobre algo branco, e observe a cor do vinho, a sua limpidez e intensidade. Com esta observação pode tirar algumas informações sobre o vinho, como por exemplo a sua idade: tons mais violeta indicam que está na presença de um vinho mais jovem, enquanto que tons mais acastanhados indicam que se trata de um vinho mais envelhecido.
Os vinhos tintos, com a idade, vão perdendo intensidade na sua cor, o que se traduz numa maior transparência nas bordas do mesmo. Já os vinhos brancos tendem a escurecer, indo de encontro aos tintos. Com o passar dos anos ambos os tipos de vinhos evoluem para uma cor âmbar e mais acastanhada. No caso de um vinho espumante, o tamanho das bolhas e a persistência do seu “rasto”, após o desaparecimento da espuma inicial, são dois fatores a ter em conta.
Ao endireitar o copo pode ver a “famosa” lágrima. Quanto mais evidente e densa for, maior será o teor alcoólico do vinho.
Prova Olfativa
Nesta fase não tenha medo de enfiar o nariz dentro do copo. Comece com o copo quieto e, só depois de ter absorvido todos os aromas iniciais, agite o copo. Esta agitação irá permitir e acelerar, graças ao oxigénio, a libertação de novos aromas. O melhor do vinho é que este evolui e transforma-se com o tempo. Os aromas de um vinho no início de um jantar ou de uma conversa não serão os mesmos no final desse mesmo jantar ou conversa.
A memória olfativa é crucial nesta fase da prova e poderá até reconhecer um aroma específico sem o conseguir identificar. É normal e é com a prática e prova regular de vinhos que treinará esta memória.
Degustação
Ao provar o vinho certifique-se que este entra em contacto com todas as partes da língua, pois é neste contacto que surgem as “indicações” que precisará para avaliar a doçura e a acidez, o amargor e o salgado do vinho.
Depois desta primeira avaliação e, após ter cuspido ou engolido o vinho, consegue avaliar a sua persistência e o final na boca.
A prova de um vinho é algo muito subjetivo, que varia consoante o provador, seja este profissional ou não. Todas as sensações que aquele copo de vinho lhe poderá vir a transmitir irão ser influenciadas pelo seu estado de espírito, pelos seus sentidos, pelo ambiente que o rodeia ou até mesmo pela comida.
Quando provamos um vinho durante a refeição é importante termos em consideração o pairing que estamos a fazer, pois pode influenciar positiva ou negativamente a prova. É importante que exista um equilíbrio entre a comida e o vinho de forma a que um não se sobreponha ao outro, mas que se enalteçam e complementem.
Degustar um vinho é saber interpretar as sensações e emoções que este transmite, o que nem sempre é fácil. Várias pessoas podem reconhecer um aroma do vinho e todas descrevê-lo e identificá-lo de maneiras diferentes.
No final da prova a questão mais relevante é se ficou ou não a conhecer o vinho, quais as sensações e emoções de que mais e menos gostou.
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