Uma das questões que tem vindo a ser respondida, ao longo dos anos, pelos especialistas em desenvolvimento infantil é “quando é que as crianças começam a reter memórias?”, isto é, memórias consideradas acessíveis, que a criança vai recordar, de forma rápida e eficaz, sempre que assim o pretender.
Entre os especialistas, existe um consenso de que a retenção e evocação de memórias acessíveis é iniciada, não raras vezes, a partir dos 4 anos de idade – existindo, naturalmente, exceções.
No período de férias de verão (ou inverno, com as deslumbrantes viagens, por exemplo, a Paris e à Disneyland), esta questão torna-se ainda mais importante: será que só devemos planear uma viagem quando o nosso filho atingir os 4 anos de idade? Valerá a pena o investimento? Ele irá recordar alguma coisa das viagens que aconteçam antes deste período de referência?
Rebecca Weksner, especialista em psicologia da educação, alerta que, independentemente da idade, quando uma experiência é muito intensa em termos emocionais, a criança tende a recordar essa mesma experiência – mesmo que perca alguns detalhes.
Adicionalmente, surge outra questão relevante: são somente as memórias importantes?
De acordo com Jessica Sproat, especialista em desenvolvimento infantil, as experiências de viajar são momentos de aprendizagem, de adaptação a contextos diferentes, de desenvolvimento de competências interpessoais.
A título de exemplo, quando a criança contacta com alimentos, animais e pessoas consideradas diferentes do seu meio de origem, existe um desenvolvimento de competências como a empatia. Outro exemplo é que, durante a viagem, surgem sempre imprevistos e mudanças de última hora. Para as crianças, que aprendem por observação, são momentos de aprendizagem, no sentido da regulação das emoções, resolução de problemas, tomada de decisão.
Em termos emocionais, as viagens não só são momentos riquíssimos para a relação pais-filhos, como ajudam também no desenvolvimento emocional: é importante ajudar a criança a descrever como se sente, a atribuir nomes às emoções, a ter um maior contacto com o seu mundo interno emocional.
A inclusão da criança no planeamento ou antecipação da viagem pode ser importante. É possível fazê-lo através de livros, imagens e vídeos que podem ser mostrados à criança, sobre os lugares que vai encontrar. Quando já faz sentido, pode ser interessante que a criança participe na construção do plano e itinerário de férias, com os pais. Quando ainda é demasiado pequena para isso, existe a importante opção de dar liberdade para escolher que brincadeira gostaria de fazer com os pais naquele final de dia, já no ambiente de férias.
Existe também o período após a viagem que também é importante, no sentido de prolongar as memórias. Por exemplo, pais e filhos podem construir, em conjunto, um livro de memórias com fotografias, podem assistir aos vídeos da viagem em família e mostrar a outros familiares, permitindo que a criança faça partilhas sobre a viagem – se a criança já for capaz de o fazer. Sabe-se que para crianças é mais fácil recordar memórias com recurso a estímulos visuais, o que reforça a importância desta estratégia.
Por fim, Claudia Luiz, especialista em desenvolvimento emocional, aponta que, mesmo que a criança não se recorde dos detalhes da experiência, recordar-se-á das emoções associadas a esse momento e, inevitavelmente, serão uma referência para experiências futuras: a possibilidade de a criança gostar de viajar e vir a ser um adulto que aprecia sair da zona de conforto e explorar o ambiente que o rodeia é elevada.
As férias são momentos de proximidade e intimidade emocional, entre os pais e os filhos e o próprio casal. O crescimento dos nossos filhos é irreversível, ele não vai voltar a ter quatro anos de idade e um desejo imenso de saltar para o seu colo na piscina. Aproveite!
As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino, psicólogos da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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