Não raras vezes, a existência deste medo é acompanhada por outras características, no que diz respeito ao funcionamento da pessoa, como por exemplo um estilo de vinculação ansioso (vivenciar inseguranças na relação com o outro; dúvidas acerca do afeto, envolvimento e comprometimento do outro), uma baixa autoestima, uma hipersensibilidade a potenciais sinais de rutura nas relações, a vivência de um maior sofrimento aquando do término de uma relação e uma tendência a vivenciar sentimentos de vazio, solidão e uma necessidade de pertença.

Mesmo sendo o medo de ficar sozinho uma noção distinta do termo estilo de vinculação insegura, partilham algumas semelhanças, como o medo da rejeição, do abandono e a hipervigilância a potenciais sinais de rutura ou crise na relação. Contudo, enquanto um estilo de vinculação inseguro envolve todas as relações da pessoa (por exemplo, familiares, amigos), o medo de ficar sozinho é direcionado, especificamente, para as relações amorosas.

Riscos e consequências

As investigações têm vindo a identificar inúmeros riscos e consequências associadas a este medo. O medo de perder alguém de quem gostamos é natural, desde que não impeça o nosso bem-estar individual e da relação. Porém, este medo de ficar sozinho pode ser tão intenso que se torna prejudicial ao bem-estar da pessoa, com consequências para a sua vida, por vezes, irreversíveis.

Em primeiro, destaca-se a tendência para retomar relações do passado, ainda que consideradas negativas, associadas a memórias dolorosas e tenha sido a própria pessoa a terminar o relacionamento. No entanto, a relação é retomada porque é, por vezes, uma “escolha fácil”, minimamente conhecida e que reduz, na visão da pessoa, o risco de terminar sozinha. Estudos apontam que o envolvimento repetido em relações anteriores, motivado por este medo, é preditor de mal-estar, particularmente sentimentos de raiva e de tristeza.

Outra consequência é permanecer em relações em que a pessoa sente que já não é feliz e que tendem a ser prejudiciais e associadas a uma elevada dependência emocional, mas que a pessoa sente que é incapaz de terminar e avançar com a sua vida pelo desconforto em imaginar ficar sozinho.

Pode também acontecer o envolvimento impulsivo em novas relações. O envolvimento numa nova relação, para as pessoas que vivenciam este medo, é, frequentemente, pautado por critérios poucos elevados, diversificados e rígidos. As investigações têm vindo a revelar que este medo se encontra associado a uma maior probabilidade de envolvimento com novos parceiros com expectativas e objetivos diferentes para a relação. Em poucas palavras, existe uma tendência para prescindir das próprias necessidades emocionais e expectativas para uma relação em prol da disponibilidade e interesse do outro. Naturalmente que qualidade da relação não é a prioridade, mas a existência, por si só, de uma relação, independentemente do que causa na pessoa.

O risco de término deste tipo de relações, motivadas pelo medo da solidão, é também bastante elevado, o qual tende a ser particularmente difícil e associado a sintomas de depressão e ao desejo de iniciar uma nova relação – o que justifica que, por vezes, sejam retomadas relações do passado.

Neste sentido, quando a relação termina, os medos da pessoa insegura são confirmados, o que facilita com que esta se torne consecutivamente mais impulsiva e diminua as suas exigências para uma nova relação.

Por consequência, ao iniciar uma nova relação, a pessoa tende a estar hiperalerta a potenciais sinais de rutura e sabotar, em parte, a relação, devido a inseguranças, desconfianças e tendência a discutir com o parceiro acerca do (suposto) reduzido comprometimento na relação.

Auto-sabotagem

Aquando do fim da relação, o medo de ficar sozinho é imediatamente acentuado, independentemente de quem tomou a iniciativa de terminar. Em algumas situações, a própria pessoa, devido às suas inseguranças, termina com a relação com o objetivo de se proteger de sofrer, pois interpreta erradamente sinais de rutura no comportamento do companheiro e deseja iniciar uma nova relação com outro parceiro.

Os estudos evidenciam algumas diferenças de género, dado que este medo tende a ser mais elevado nas mulheres em comparação aos homens, em parte, devido à tendencial importância de uma relação para o bem-estar ser mais acentuada no género feminino. Uma investigação recente revelou que um fator facilitador deste fenómeno é também o maior consumo de conteúdo romântico pelo género feminino (filmes e séries de comédias românticas ou dramas)

Em resumo, o medo de ficar sozinho facilita a existência de relações de dependência emocional nas quais a pessoa é infeliz, mas incapaz de terminar o relacionamento devido à estabilidade proporcionada. Noutras situações, é o próprio medo do abandono que facilita que as pessoas terminem a relação, ainda que seja o seu maior pesadelo e a envolver-se imediatamente numa nova relação, pouco ponderado e com poucos critérios associados à tomada de decisão, não raras vezes, motivada pela necessidade de preencher o vazio emocional e atenuar um medo dificultador do bem-estar.

No entanto, é possível quebrar este ciclo. Recorra a ajuda psicológica especializada para reconhecer o seu estilo interpessoal, desenvolver estratégias de regulação emocional, controlo da impulsividade, promoção da autoestima e atenuar as inseguranças e medos impeditivos da sua felicidade. Não está sozinho. Peça ajuda. 

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.