Relativamente à prevalência em Portugal, estima-se que existam 194 mil pessoas com demência, das quais 60 a 80% têm Alzheimer, uma doença que afeta sobretudo os seniores. Algumas estimativas apontam para que 25% das pessoas com mais de 85 anos sofram de demências, das quais 70% terão origem na Doença de Alzheimer. De acordo com estas estimativas, em Portugal, haverá 145 mil doentes com Alzheimer.
Para além disso, a recente pandemia por COVID-19 pode ter agravado este problema. Uma investigação publicada no Journal of Alzheimer’s Disease Journal of Alzheimer’s Disease, em 2022, concluiu que as pessoas mais velhas que estiveram infetadas com Covid-19 têm um risco “substancialmente maior” de desenvolver Doença de Alzheimer no espaço de um ano, circunstância observada especialmente entre mulheres com pelo menos 85 anos. A investigação foi realizada com pacientes com mais de 65 anos e indica que o risco de desenvolver esta doença é entre 50% e 80% maior do que num grupo controlo.
Principais sinais de alerta da doença
- Falta de memória em aspetos do quotidiano: esquecimento de datas ou eventos importantes;
- Desorientação. Perda da noção espacial;
- Alguma dificuldade em executar tarefas diárias ou resolver problemas comuns;
- Repetição de frases num curto espaço de tempo;
- Dificuldade em continuar uma conversa.
A Doença de Alzheimer afeta sobretudo a memória, a orientação, perceção visual e linguagem, comprometendo a autonomia, bem-estar e qualidade de vida.
Perante um país com uma população cada vez mais envelhecida e propícia a ter a doença que mais incapacidade gera, é fundamental que todos estejamos preparados para compreender, combater e acompanhar esta doença.
Logo, a abordagem a esta patologia requer cuidados específicos e apoio profissional multidisciplinar, que permita traçar um plano de intervenção holístico de acordo com as necessidades variáveis que a pessoa tem em cada fase da doença.
Terapias cognitivas para retardar a doença de Alzheimer
As terapias não farmacológicas, ou seja, qualquer intervenção não química realizada para treino ou reabilitação física, cognitiva, sensorial e emocional, que melhore e mantenha a autonomia da pessoa, melhoram a qualidade de vida das pessoas com Alzheimer. Entre as terapias não medicamentosas mais interessantes estão a reminiscência, a terapia animal, musicoterapia, videojogos e salas multissensoriais ou snoezelen.
Terapia de reminiscência
Trata-se de uma técnica aplicada a pessoas com demência para promover relações sociais e a comunicação, reforçar a autoestima, a identidade e melhorar o humor. Baseia-se na evocação de memórias e acontecimentos do passado, conectando-os ao presente, a fim de fortalecer e consolidar a própria identidade.
Terapias com animais
Passar algum tempo com animais de estimação ajuda a reduzir o stress e a ansiedade, o que melhora o bem-estar e a qualidade de vida. Também combate a sensação de solidão e evita o sedentarismo. Estas terapias contam, habitualmente, com cães e gatos, mas também podem ser realizadas sessões de terapia com aves de rapina, que oferecem diferentes estímulos como a melhoria na concentração e a estimulação sensorial e cognitiva. Também facilita a socialização dos seniores, uma vez que podem acariciá-las, segurá-las e ajudá-las a voar.
Videojogos ou a Realidade Virtual
Os videojogos podem ser usados para treino físico e cognitivo de forma lúdica. É uma excelente terapia funcional e cognitiva, pois favorece a autonomia pessoal. Já a realidade virtual fornece ambientes tridimensionais nos quais é possível interagir com qualquer objeto em tempo real e por meio de múltiplos canais sensoriais: visual, auditivo, tátil, olfativo, entre outros.
Salas Snoezelen (salas multissensoriais)
São espaços interativos que recriam um ambiente que proporciona experiências agradáveis que promovem o bem-estar emocional e estimulam as habilidades físicas e cognitivas das pessoas.
Manter uma vida intelectual, social e emocional ativa será uma das melhores ferramentas para favorecer a preservação e melhor qualidade das funções mentais.
Infelizmente ainda não existe nenhum tratamento eficaz para a Doença de Alzheimer, por isso tanto as terapias não farmacológicas como a formação dos cuidadores são fundamentais para a sua abordagem, permitindo que os seniores possam viver da forma mais digna possível.
Um artigo de André Rodrigues, médico coordenador das Residências ORPEA em Portugal.
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