A resposta a esta questão passa pela análise de vários fatores importantes que influenciam e determinam a resposta do nosso organismo aos agentes infeciosos:
- O ar muito frio ou muito quente, especialmente se for seco e se houver vento, seca, fragiliza e irrita as vias aéreas, reduzindo a sua capacidade de resistência à invasão por microrganismos e danificando os cílios vibráteis que ajudam à expulsão da expetoração e das partículas estranhas que nelas se encontram;
- Os poluentes do ar, como o dióxido de carbono, os gases dos escapes (especialmente os dos veículos movidos a gasóleo), poeiras, fumos (especialmente do tabaco, de incêndios e de lareiras) e o ozono (principal componente do smog) têm um efeito semelhante e ainda agravam a doença obstrutiva pulmonar crónica (DPOC) e aumentam o efeito dos alérgenos respiratórios, agravando as rinites, as sinusites e a asma;
- As alterações climáticas em curso (aquecimento global) têm feito aumentar a quantidade de polens e a duração dos períodos de polinização, agravando as alergias respiratórias, facilitando o aparecimento de doenças infeciosas e aumentando a sua gravidade;
- O aquecimento global tem igualmente provocado fenómenos meteorológicos extremos (chuvas torrenciais, secas prolongadas, vagas de frio, ondas de calor, “ilhas de calor”, ventos ciclónicos), que alteram o equilíbrio dos ecossistemas e facilitam a disseminação de doenças infeciosas transmitidas pela água (gastroenterites, cólera, hepatite A, criptosporidiose, leptospirose…), pelo ar (constipações, faringites, amigdalites, gripe, bronquites, pneumonias…) e por vetores animais (malária, dengue, febre da carraça, leishmaniose…);
- As contínuas variações climáticas, com alternância de frio/calor e de ar húmido/seco reduzem as defesas imunitárias e perturbam os mecanismos de adaptação do nosso organismo (hormonais, neurovegetativos, cardiovasculares…), que normalmente demoram dias ou semanas a atuar, impedindo que nos cheguemos a adaptar completamente a cada uma dessas situações (já lá vai o tempo dos longos invernos frios e chuvosos e dos longos verões quentes e secos durante os quais conseguíamos cumprir mais eficazmente esses processos de adaptação…).
É de realçar que todos os mecanismos atrás indicados são especialmente gravosos no caso das crianças mais pequenas e dos idosos (que ainda não desenvolveram completamente ou já perderam parcialmente as defesas imunitárias e os mecanismos de adaptação às diferenças de temperatura), nas pessoas que sofrem de doenças crónicas debilitantes (que se agravam com a exposição a fenómenos stressantes como as variações climáticas e com as doenças infeciosas) e nas pessoas com mais baixas condições socioeconómicas (que se agasalham menos bem e que vivem em casas de pior qualidade, com menor isolamento térmico e mais permeáveis aos agentes poluentes).
Deste modo, pode dizer-se que sim, que as temperaturas fora do normal nesta época do ano aumentam a probabilidade de contrair doenças respiratórias e até de as agravar, sobretudo porque estas temperaturas anormalmente elevadas não ocorrem de uma forma estável, antes de enquadram num processo de variação climática constante com ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos.
É possível minimizar estes problemas se pusermos em prática algumas medidas
- manter uma temperatura confortável, de 18 a 21ºC, em casa e nos locais de trabalho;
- evitar respirar ar muito seco (usar humidificadores, colocar uma bacia com água ou uma toalha molhada nas salas aquecidas, tomar banho com a porta da casa de banho aberta…);
- arejar os espaços fechados;
- limpar com frequência os filtros dos aparelhos de ar condicionado;
- reduzir a exposição a fumos (não se deve fumar em espaços fechados, especialmente nos quartos de dormir), alérgenos, agentes irritantes das vias aéreas;
- evitar mudanças bruscas de temperatura;
- procurar respirar pelo nariz, para aquecer e humidificar o ar que se inspira;
- usar o vestuário adequado a cada situação;
- fazer as vacinas indicadas pelas autoridades de saúde (gripe, pneumonias…);
- lavar as mãos com frequência;
- evitar locais sobrelotados;
- manter um bom estado geral de saúde, de hidratação e de nutrição.
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