A parentalidade é, para muitos, um dos maiores sonhos de vida. Porém, para inúmeras pessoas e casais, esse caminho nem sempre é simples. É aqui que os tratamentos de fertilidade — ou Procriação Medicamente Assistida (PMA) — têm desempenhado um papel verdadeiramente essencial.

Ao longo dos últimos anos, a PMA não só ajudou milhares de pessoas a concretizar o sonho de ter filhos, como também tem sido uma força impulsionadora na construção de famílias além dos modelos tradicionais. Hoje, graças aos avanços médicos e às mudanças sociais, a parentalidade deixou de ser um privilégio exclusivo de casais heterossexuais. Casais do mesmo sexo, pessoas que escolhem ser mães a solo e até pessoas transgénero encontram na PMA uma porta aberta para a realização dos seus projetos familiares.

Num mundo em constante transformação, as definições de família também evoluem. A parentalidade pode surgir da vontade de um casal de mulheres partilhar a maternidade, ou da decisão de uma pessoa não-binária de recorrer à preservação de fertilidade antes de iniciar a transição de género. Todas estas realidades encontram espaço na medicina reprodutiva contemporânea, que responde com sensibilidade e competência às novas configurações familiares.

Seja através de fertilização in vitro, inseminação artificial ou doação de gâmetas ou embriões, a Medicina da Reprodução acompanha histórias de amor, de coragem e de esperança. Cada tratamento é uma nova oportunidade, cada embrião transferido é um novo começo, cada nascimento é uma celebração da diversidade e da liberdade de formar família.

Portugal é, hoje, um dos países mais inclusivos da Europa em matéria de acesso à PMA, permitindo que casais de mulheres e mulheres sem parceiro realizem tratamentos com apoio do Serviço Nacional de Saúde. Este avanço legislativo reflete uma sociedade que reconhece e valoriza diferentes formas de parentalidade — e que coloca o bem-estar das crianças no centro, independentemente da configuração familiar onde crescem.

Ao democratizar o acesso à fertilidade, a PMA contribui para um mundo onde o amor, o desejo de cuidar e a vontade de formar família falam mais alto do que os estereótipos. É um testemunho de uma sociedade que caminha no sentido da inclusão, da empatia e do respeito pela pluralidade de experiências humanas.

A ciência, a empatia e a coragem caminham juntas para tornar o sonho da parentalidade uma realidade acessível a todos. Porque no final, o que realmente importa é o amor que une uma família — independentemente da sua forma, da sua origem ou da sua história.

Um artigo da médica Joana Mesquita Guimarães, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, subespecialista em Medicina da Reprodução e diretora da Clínica da Procriar.