![Procriação medicamente assistida: quais as dúvidas mais frequentes?](/assets/img/blank.png)
A fertilidade continua a ser um tema rodeado de dúvidas e mitos. Com os avanços da Medicina da Reprodução, muitas questões surgem sobre o impacto do estilo de vida, os limites da idade, as técnicas disponíveis e os seus efeitos. Afinal, o que é verdade e o que é mito quando falamos de Procriação Medicamente Assistida (PMA)?
Como especialista em Ginecologia e Obstetrícia e Subespecialista em Medicina da Reprodução, partilho algumas das perguntas mais comuns que recebo em consulta.
É verdade que a toma da pílula durante muitos anos pode causar infertilidade?
De modo algum. O uso prolongado da pílula pode, por vezes, atrasar a retoma do ciclo menstrual regular, mas não leva a infertilidade.
Como posso saber se os meus ovócitos têm qualidade?
A idade da mulher é o principal indicador da qualidade dos ovócitos, sendo que mulheres mais jovens terão em princípio melhor qualidade ovocitária do que mulheres mais velhas. A reserva ovárica diminui progressivamente a partir dos 35 anos. Fatores como tabagismo, alimentação, prática desportiva e a presença de patologias como a endometriose ou doenças autoimunes podem afetar a qualidade e a quantidade dos ovócitos. Na consulta, podemos avaliar o número de ovócitos através do doseamento da AMH (hormona anti mülleriana) e do número de folículos antrais observados na ecografia ginecológica.
Existe limite de idade para a PMA?
Em Portugal, a legislação estabelece o limite máximo de 50 anos para os tratamentos de PMA. Porém, a partir dos 45 anos as propostas incluem, habitualmente, tratamentos com ovócitos doados, pois a possibilidade de sucesso com ovócitos próprios é muito reduzida.
As técnicas de PMA são dolorosas?
Embora os tratamentos possam envolver algum grau de desconforto ou dor, a maioria das mulheres tolera bem os procedimentos, pois são minimamente invasivos. A punção folicular realizada para tratamentos FIV/ ICSI é realizada sob sedação, evitando dor ou desconforto. A transferência de embrião e a inseminação intrauterina são técnicas bem toleradas, comparáveis a um exame ginecológico.
A preservação da fertilidade pode levar a diminuição da reserva ovárica? Fazer várias punções pode reduzir a reserva ovárica?
Não. Durante o ciclo de estimulação, há o crescimento de múltiplos folículos que seriam naturalmente perdidos naquele ciclo. A punção recolhe apenas os ovócitos disponíveis naquele ciclo, sem afetar os que estão "reservados" para ciclos futuros. Nem a preservação da fertilidade nem múltiplas punções aceleram o declínio natural da reserva ovárica.
Qual a idade ideal para a preservação de ovócitos?
A congelação de ovócitos é recomendada para todas as mulheres que desejam adiar a gravidez ou que enfrentam condições que possam comprometer a sua fertilidade no futuro. O ideal será entre os 25-35 anos, período em que há maior probabilidade de sucesso em futuros tratamentos. Ainda assim, a preservação pode ser vantajosa até aos 40 anos.
Qual é o número de embriões aconselhados numa transferência embrionária?
O número de embriões aconselhado numa transferência embrionária depende de vários fatores, incluindo a idade da mulher, a qualidade dos embriões, se resultam de um ciclo com ovócitos doados, e os antecedentes do casal, nomeadamente número de tratamentos anteriores sem sucesso. Na maioria dos casos, recomenda-se a transferência de um único embrião, especialmente em mulheres mais jovens quando se utilizam embriões de boa qualidade, ou quando os embriões resultam de ovócitos doados. A tendência atual é transferir o menor número possível de embriões, a fim de minimizar os riscos de gravidez múltipla e otimizar resultados.
A PMA tem ajudado muitas pessoas a concretizar o desejo de ter filhos, mas continua envolta em dúvidas e desinformação. Se está a considerar um tratamento de PMA, o mais importante é procurar aconselhamento especializado para esclarecer todas as suas questões e compreender as opções disponíveis.
A fertilidade é um tema sensível e único para cada pessoa. Quanto mais informados estivermos, melhores decisões podemos tomar para o nosso futuro reprodutivo.
Um artigo da médica Susana Fraga, especialista em Ginecologia e Obstetrícia e subespecialista em Medicina da Reprodução.
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