A fisioterapia fornece serviços a indivíduos e populações com a finalidade de desenvolver, manter e restaurar a máxima capacidade para o movimento e funcionalidade, ao longo de todo o ciclo de vida. Isto inclui serviços em circunstâncias em que o movimento e função estão ameaçados pelo envelhecimento, lesão, dor, doenças, condições ou fatores ambientais.
A fisioterapia respiratória (componente da área da fisioterapia cardiorrespiratória) diz respeito à intervenção do fisioterapeuta nas condições do foro respiratório, com doença ou em risco de a desenvolver, prestando assim cuidados no âmbito da prevenção, tratamento, habilitação e reabilitação.
A fisioterapia respiratória deve ser oferecida a doentes com doenças respiratórias agudas (críticas e não críticas) ou crónicas, cujos objetivos sejam:
- A melhoria/controlo dos sintomas (dispneia, fadiga, dor);
- A limpeza das vias aéreas;
- A melhoria das trocas gasosas;
- O aumento da força e resistência muscular;
- O aumento da tolerância ao esforço e capacidade para o exercício;
- A melhoria da capacidade para realizar as atividades do dia-a-dia;
- O aumento da eficácia na auto-gestão da doença e no auto-cuidado;
- A redução da ansiedade e stress;
- A prevenção de infeções respiratórias;
- O aumento dos níveis de atividade física;
- A melhoria da qualidade de vida relacionada com a saúde;
- Promover a adesão a comportamentos para melhoria/manutenção da saúde (ex. realização de atividade física de forma regular, não fumar ou deixar de fumar).
Algumas imagens dos exercícios
Para atingir estes objetivos, ou contribuir para eles, o fisioterapeuta na área respiratória utiliza técnicas e treinos específicos e intervém em vários contextos de prática desde o hospital (cuidados intensivos, serviço de urgência, enfermarias, serviço de MFR), comunidade (centros de reabilitação, unidades privadas de Fisioterapia, clínicas, Cuidados Saúde Primários, Unidades de Cuidados Continuados e de Cuidados Paliativos, Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI), ginásios), até ao domicílio.
Pelas suas competências específicas o fisioterapeuta respiratório é um elemento fundamental nas equipas multi-interdisciplinares de Reabilitação Respiratória, cuja evidência dos benefícios está claramente demonstrada nos doentes com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) e também com bons resultados noutras doenças como as bronquiectasias, doenças do interstício (ex. fibrose pulmonar idiopática), asma, sequelas de tuberculose, fibrose quística, doenças neuromusculares, doentes pré e pós-transplante pulmonar, cancro do pulmão (ex. pré e pós-cirurgia e a realizar quimioterapia e radioterapia), pré e pós cirurgia abdominal, obesidade, hipertensão pulmonar, entre outras.
A Reabilitação Respiratória (RR) é uma intervenção abrangente, multi-interdisciplinar, dirigida aos doentes respiratórios crónicos, realizada por uma equipa que inclui vários profissionais de saúde (médico, fisioterapeuta, enfermeiro, psicólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional, entre outros), baseando-se numa avaliação, que permite elaborar um programa de reabilitação individualizado, que inclui, mas não se limita, ao treino de exercício físico, educação e mudança de comportamentos desenhados para melhorar a condição física e psicossocial e promover a adesão a longo prazo de comportamentos promotores de saúde.
Os benefícios da RR comprovados são:
- O aumento da tolerância ao esforço;
- A melhoria da capacidade funcional para as tarefas diárias;
- A redução dos sintomas (dispneia, tosse, expetoração)
- A redução da ansiedade e depressão;
- A diminuição do número de exacerbações e da sua gravidade;
- Uma recuperação mais rápida após uma exacerbação;
- A diminuição do número de idas às urgências, hospitalizações e tempo de hospitalização;
- A melhoria da qualidade de vida relacionada com a saúde;
- Um maior bem-estar emocional e social;
- Uma maior eficácia do doente e familiares/cuidadores na auto-gestão da doença.
- Estes benefícios não se traduzem apenas em melhorias de saúde para os doentes, como também numa redução de custos diretos e indiretos com a saúde para o estado, seguradoras, doente e famílias.
A RR pode ser realizada em diferentes locais (hospitalar, centros especializados, comunidade – cuidados saúde primários e centros de reabilitação, domicílio) sendo cada um deles adaptado para doentes com diferentes graus de gravidade e complexidade. O contexto hospitalar deve preferencialmente destinar-se a doentes mais graves que requerem mais meios de avaliação e controlo, e equipas especializadas. A reabilitação na comunidade destina-se a doentes menos graves e doentes para manutenção de resultados pós Programa de Reabilitação Respiratória (PRR).
A RR no domicílio (acompanhado por fisioterapeuta presencialmente, telerreabilitação ou um sistema misto) deve ser reservada para os doentes que têm dificuldade de acesso a locais onde existam programas de RR (ex. dificuldades na deslocação, condição de saúde débil), podendo ser também uma boa forma de manter os resultados de um PRR realizado no hospital ou centro especializado.
A RR é uma intervenção custo-efetiva, com benefícios comprovados para o doente respiratório, sendo importante aumentar a sua acessibilidade que é atualmente muita reduzida, em particular no contexto comunitário, que abrange a maioria dos doentes respiratórios crónicos que necessitam de RR.
A fisioterapia respiratória e o profissional habilitado para a executar, o fisioterapeuta, são elementos fundamentais que contribuem para a melhoria da condição de saúde do doente respiratório (aguda ou crónica) nas suas várias dimensões (física, psíquica e social), seja integrado numa equipa multi-interdisciplinar de RR ou num contexto de prática mais direto não enquadrado no conceito de Reabilitação Respiratória.
Um artigo de Paulo Abreu, Fisioterapeuta e Clinical Development Manager do AIR Care Centre – Centro de Reabilitação Respiratória da Linde Saúde.
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