Temos tendência a desvalorizar o medo, como quem o considera irrelevante, desvalorizamos os nossos medos e, ainda mais rapidamente, os medos dos outros, por exemplo, quando uma criança nos diz que tem medo de monstros a primeira coisa que dizemos é que “não há monstros” e, assim, chutamos o medo para longe de nós e temos a ideia que também o chutamos para longe da criança mas, na verdade, confrontamo-la com a necessidade de viver aquele medo sozinha, porque ninguém acreditou nos seus medos e se mostrou disponível para o viver com ela.

O medo apanha-nos muitas vezes de surpresa, sem estarmos à espera e, muitas vezes, perante coisas que outrora achávamos ser capazes, naquele instante tolhidos pelo medo deixamos de o ser e paralisamos. Isto acontece nas mais variadas situações, por exemplo, quando temos um adolescente que sabia toda a matéria para um exame, aparentemente estava seguro, mas chega à hora do exame e, por força do medo, dá-lhe a tradicional “branca” e fica incapaz de resolver o exame, ou quando por exemplo, no nosso dia a dia somos confrontados com alguma situação inesperada e no momento parecemos não reagir, não ser capazes de falar com congruência.

Tudo isto são formas de termos medo, e de não conseguirmos afastarmo-nos dele, e é transversal a crianças, a adolescentes e adultos. O medo tem muitas vezes o poder de nós fazer paralisar, porque quando temos medo algures dentro de nós esse medo surge porque temos a real sensação de que estamos em perigo, de que alguma coisa de mal pode acontecer, é quase como um semáforo vermelho que se acende dentro de nós e envia a mensagens “para, estás em perigo”, perante este sinal, aquilo que tendemos a fazer é parar, por vezes, paralisar.

Ora pela vida fora teremos sempre medos, seremos sempre surpreendidos por perigos, os primeiros medos começam a imergir de forma clara pelos dois, três anos e daí para a frente vamos sempre ser confrontados com eles. Não podemos deixar de ter medos, mas podemos aprender a geri-los evitando paralisar, para o conseguirmos devemos sermos capazes de os ouvir, ser capazes de os expressar e de percebermos tudo aquilo que se esconde por baixo desses medos. Por exemplo, o adolescente que no exame tem uma branca, muitas vezes, atrás daquele exame há o medo de falhar, de ser considerado burro ou de de desiludir os pais e, na hora de resolver esse medo mascarado de  “branca”, temos de desconstruir todas estas questões. O mesmo se passa com o medo dos crescidos, há que perceber de onde eles vêm, e o que representam.

Na busca por deixarmos os nossos medos para trás, devemos lembrar-nos que sempre que  vivemos um medo sozinhos ele toma dimensões muito superiores e parece tomar conta de nós, por isso, partilha-los é sempre um passo para os resolver os nossos medos, da mesma forma que se queremos ajudar as crianças, ou adolescentes, a resolver os seus medos devemos ser capazes de os ouvir, permitindo-lhes que expressem tudo aquilo que, por exemplo, os monstros representam.

Só assim, da partilha, à descontração e à compreensão dos medos, seremos capazes de deixar de paralisar com eles.