
Falar sobre incontinência ainda é um tabu. E eu sei bem o peso desse silêncio. Após o nascimento da minha filha Alice, em 2014, percebi que algo não estava bem. Tinha incontinência fecal, mas recusei aceitar. O tempo passou e nada mudou. O medo e a vergonha impediram-me de procurar ajuda.
Como explicar à família, aos amigos, no trabalho? Como viver sem medo, quando cada saída se torna um risco?
O isolamento tomou conta de mim. Vivia sempre em alerta, carregando uma muda de roupa e produtos de higiene, sem confiar no meu próprio corpo. Finalmente, falei com a minha obstetra. Fui operada em 2016, mas o resultado foi devastador: perdi completamente o controlo. Após um ano de sofrimento e reabilitação sem sucesso, encontrei uma solução: a neuromodulação sagrada. A cirurgia, em 2017, devolveu-me a dignidade. Mas as marcas ficaram.
Perdi o meu emprego e percebi que o mundo não estava preparado para lidar com esta condição. Decidi criar o meu próprio caminho, abrindo um negócio. Retomei a minha vida, mas fiquei com uma pergunta: quantas pessoas passam pelo mesmo, em silêncio?
A criação da APDPI: ninguém deve sofrer sozinho
Em 2024, junto com outras duas mulheres que vivem com incontinência fecal, a Rafaela Ferreira e a Joana Paredes, fundei a APDPI – Associação Portuguesa de Disfunção Pélvica e Incontinência.
Criámos esta associação porque sabemos o que é sentir-mo-nos invisíveis, desamparadas e sem respostas. Sabemos o que é procurar ajuda e encontrar portas fechadas ou médicos que desvalorizam o problema. Queremos normalizar a conversa sobre incontinência, sem normalizar a sua existência.
A APDPI luta por mais informação, apoio e justiça. Defendemos melhores condições para os doentes, desde o acesso a tratamentos e materiais de apoio até mudanças na legislação sobre incapacidade.
Se a vergonha já é um obstáculo, a falta de informação e apoio não pode ser outro.
A incontinência urinária é a perda involuntária de urina, podendo ocorrer ao tossir, rir ou ter urgência repentina para urinar e afeta milhões de pessoas no mundo. Muitas pessoas acreditam que é algo inevitável com a idade, mas existem tratamentos eficazes.
As opções de tratamento disponíveis atualmente passam por:
- Mudanças no estilo de vida – Evitar café, álcool e tabaco, manter um peso saudável.
- Fisioterapia do pavimento pélvico – Exercícios de Kegel e biofeedback ajudam no fortalecimento muscular.
- Tratamentos médicos – Medicamentos e, em alguns casos, injeções de toxina botulínica.
- Cirurgia – Procedimentos como a cirurgia de sling ou neuromodulação sacral podem ser a solução para casos mais graves.
A nossa luta continua
A APDPI está disponível para apoiar todos aqueles que vivem com incontinência. Estamos disponíveis no Facebook, Instagram e por email para ouvir, aconselhar e acompanhar quem precisa.
Ninguém deve sofrer em silêncio. Porque juntos, podemos mudar vidas!
Um artigo de Joana Oliveira, Presidente da APDPI – Associação Portuguesa de Disfunção Pélvica e Incontinência.
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