A genética do indivíduo é o resultado do que somos e por isso é única. Também por isso a suscetibilidade genética funciona como o livro de instruções pessoal, que, quando estudado, permite identificar as características genéticas que estão associadas a uma maior predisposição de um indivíduo a determinados fatores com impacto na saúde. Por exemplo, hipertensão, osteoporose, diabetes, e padrão inflamatório e oxidativo.
De realização simples (feito através da saliva), o teste de suscetibilidade genética vai permitir a uma equipa multidisciplinar estudar o resultado (o livro de instruções pessoal) e desenhar um plano com medidas de saúde preventivas. Este plano visa trabalhar características individuais, para obtenção de melhores resultados e de uma maneira mais rápida, por forma a que eventuais doenças crónicas nunca venham a aparecer, ou aparecendo, que se desenvolvam de forma mais ligeira e o mais tardiamente possível.
Assim, e através de um simples exame, a equipa médica é capaz de produzir um plano transversal e individualizado que tem como objetivo introduzir alterações no estilo de vida. Por exemplo, dar o retoque final no plano alimentar no que diz respeito às recomendações de alimentos e suplementos específicos de acordo com a capacidade de metabolização de vitaminas e minerais, perfil inflamatório e de stress oxidativo, sensibilidade à insulina e cafeína entre outros.
Ao nível do exercício, o estudo da suscetibilidade genética ajuda o médico a melhor identificar as variáveis fisiológicas que influenciam o exercício, desde a propensão a lesões músculo-esqueléticas, taxa de recuperação do esforço, passando pelas características de treino a que o indivíduo responde melhor.
A manifestação das doenças mentais – da esquizofrenia à doença bipolar, às perturbações da ansiedade, à depressão, às adições, à psicopatia – resulta da atuação de múltiplos genes, em conjunto com fatores não-genéticos, manifestando a complexidade do cérebro e comportamento, e sua influência mútua. Ao permitirem detetar precocemente certas vulnerabilidades, os estudos de suscetibilidade genética possibilitam uma intervenção individualizada e preventiva, podendo mesmo, através da psicoeducação, evitar o aparecimento destas doenças.
Da mesma forma que não se pode confundir teste de suscetibilidade genética com teste de diagnóstico (o primeiro dá as diretrizes médicas que devemos seguir para implementar um plano de saúde personalizado e multidisciplinar; o segundo pressupõem a existência de uma suspeição clínica e tendem a ser confirmatórios), também não pode dizer que há boas ou más genéticas. Existem, sim, perfis individuais que temos de ter em conta para melhorar cada plano. E, aqui, a nossa genética é o nosso livro de instruções, que permite ganhar tempo e sermos mais assertivos nas medidas preventivas e terapêuticas. Afinal, um dos nossos objetivos de vida é aumentar a probabilidade do número de anos vividos e a qualidade de vida com que os vivemos.
Um artigo dos médicos Diogo Miranda Santos, Marta Zegre Amorim, Raquel Santos Pereira e Rita Fontes de Oliveira, do Centro de Inovação Médica.
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