Basta abrir a boca, esfregar uma espécie de cotonete (zaragatoa) no interior da bochecha e enviar a amostra para um laboratório. Parece simples e é essa simplicidade que é usada como mote por centenas de empresas sediadas no estrangeiro para atrair curiosos que pretendem conhecer o seu perfil genético, mesmo que não o saibam interpretar ou descodificar.

"Passadas algumas semanas, recebe os resultados por e-mail. A cena pode parecer saída de um filme de ficção, mas é já uma realidade nos nossos dias. Devido à simplicidade do processo, são várias as empresas que atualmente oferecem ao consumidor testes que permitem conhecer a informação genética", alerta a Associação de Defesa do Consumidor (DECO).

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Seja através de uma amostra de saliva ou do chamado esfregaço das células internas da bochecha, as empresas que fazem estes testes genéticos prometem revelar informações sobre as origens do indíviduo, bem como a sua etnicidade. Podem também denunciar a propensão para engordar ou a predisposição para desenvolver determinados cancros, doenças cardiovasculares ou esclerose múltipla.

Nos Estados Unidos, dois dos líderes do setor dos testes genéticos de venda direta, a AncestryDNA e o 23andMe, dizem ter analisado o ADN de 15 milhões de pessoas em 2018. Entre 2016 e 2017, os rendimentos da empresa aumentaram de 60 milhões para 133 milhões.

Estas empresas têm bases de dados potentes que trabalham dados sensíveis de pessoas de todo o mundo e que vão sendo alimentadas cada vez que recebem um novo pedido de teste. Combinando os resultados, conseguem relacionar familiares, descobrir novos graus de parentesco e até construir verdadeiras árvores genealógicas. Por vezes, as surpresas podem ser desagradáveis.

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Testes analisados por quem?

"Apesar de a sua venda ser proibida em Portugal, o consumidor pode adquirir este tipo de testes através da internet, em sites que não têm origem no nosso país, da mesma forma que compra um livro ou um jogo online. E, por 100 euros, já é possível obter um kit de testes genéticos, o que pode explicar a sua popularidade. Contudo, ao contrário dos que têm finalidade médica, estes não preveem envolvimento de profissionais de saúde", alerta a DECO.

Estes testes podem fornecer informações sobre a saúde e a ascendência, mas não servem para diagnosticar, prevenir ou tratar qualquer problema de saúde. Mesmo que revelem uma predisposição genética para determinada doença, esta pode nunca se manifestar.

"Ou seja, um resultado positivo não significa que a pessoa vai ter a patologia, apenas indica maior risco de isso acontecer: vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento dos problemas de saúde, e os nossos genes influenciam apenas em parte", adverte a Associação de Defesa do Consumidor.

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Decisões perigosas

Quem faz um teste genético deve ter acompanhamento por um profissional de saúde, para que possa compreender o significado e as implicações dos resultados. "Uma informação inesperada sobre a saúde, relações familiares ou ascendência podem ser stressantes ou mesmo perturbadoras e um leigo nem sempre é capaz de a interpretar corretamente ou pode ter dificuldade em lidar com a situação", salienta a DECO.

"Tomar decisões sobre eventuais tratamentos ou meios de prevenção de doenças com base em informações incorretas, incompletas ou mal entendidas pode ser perigoso e sair caro. O desenvolvimento de um problema de saúde é influenciado por diversos fatores, incluindo aspetos ambientais e de estilo de vida. O risco genético é apenas um dos elementos", conclui.