A infertilidade masculina já representa cerca de metade dos casos que chegam atualmente às clínicas de procriação medicamente assistida. É um facto que, por razões sociais e profissionais, os casais são pais cada vez mais tarde e que, no caso da mulher a quantidade e a qualidade dos ovócitos diminuem consideravelmente a partir dos 35 anos, mas no que se refere aos homens há estudos que sugerem que a idade, por si só, não é um fator determinante. Então a que se deve o aumento dos casos de infertilidade masculina? Alguns estudos realizados nos últimos anos dão-nos algumas pistas.
Embora nem sempre seja possível identificar clinicamente a causa de infertilidade, mesmo quando não há doença, sabe-se que há diversos fatores que podem interferir com a fertilidade masculina (e também feminina). Refiro-me em particular aos relacionados com os estilos de vida. Hábitos mais saudáveis não só poderão facilitar uma gravidez quando ela tarda em aparecer, como vão certamente contribuir para uma melhoria geral da saúde.
Refira-se que a infertilidade pode ser definida como a incapacidade de se alcançar uma gravidez após 12 meses de tentativas sem recurso a qualquer meio anticoncecional, nos casos em que a mulher tenha uma idade inferior a 35 anos. Acima desta idade, este período é reduzido para seis meses.
Diversos estudos indicam que o consumo de álcool e tabaco, o excesso de peso, a ausência de atividade física e a alimentação pouco variada e equilibrada são fatores que prejudicam a fertilidade. Os alimentos processados são mais pobres em vitaminas e minerais como o ácido fólico (que ajuda a prevenir defeitos e malformações no feto), DHA – ácido docosahexaenóico (essencial para a saúde do nosso cérebro, olhos e neurónios, além de revigorar os espermatozoides masculinos), vitaminas B, C, D e E (para o controle hormonal, proteção espermática, desenvolvimento ósseo fetal, entre outros), selénio e cálcio.
Uma alimentação mais saudável além de ter um impacto direto na fertilidade ajudará a prevenir doenças como é o caso da obesidade ou da diabetes, que podem contribuir para a infertilidade. De salientar que a acumulação de gordura abdominal faz aumentar a temperatura dos testículos, prejudicando assim a qualidade do sémen. E o consumo abusivo de bebidas alcoólicas está relacionado com baixos níveis de testosterona, baixas contagens de esperma e menor quantidade de espermatozoides saudáveis.
Do stress à poluição e aos plásticos
Em relação ao tabaco, a exposição aos compostos do fumo afeta a produção espermática, com redução do volume seminal, mobilidade, morfologia e concentração de espermatozoides. A qualidade dos espermatozoides também fica afetada, sobretudo quando o consumo ultrapassa os 15 cigarros por dia.
Outros fatores que podem interferir com a fertilidade masculina são o stress e a ansiedade, a má qualidade do sono, o uso de alguns medicamentos ou substâncias, como os antidepressivos e anabolizantes, e o sedentarismo. A atividade física produz benefícios cardiovasculares, neurológicos e no metabolismo. Além disso, há estudos que demonstram que o exercício melhora a qualidade dos espermatozoides.
Alguns estudos realizados em diversos países concluem que também as substâncias químicas presentes em pesticidas, os solventes e recipientes de plástico de uso quotidiano contribuem para uma qualidade reduzida do sémen. Assim como o uso de alguns aparelhos como telemóveis ou portáteis/tablets (nos bolsos ou no colo, por exemplo) e a utilização frequente de saunas e banheiras aquecidas estão entre possíveis causas da queda da qualidade do sémen. A estas junta-se a poluição do ar, que tem impacto na qualidade e motilidade do esperma, como demonstram investigações recentes.
A infertilidade é considerada um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde que afeta milhões de pessoas em idade reprodutiva em todo o mundo. Os dados disponíveis apontam para 186 milhões de pessoas a nível global. Não se trata, por isso, de um problema residual. É algo que merece mais investigação e reflexão. Havendo já estudos que sugerem que os estilos de vida podem interferir com a fertilidade, então também cada um de nós pode ter um papel na inversão, ou pelo menos, na contenção, desta estatística, a bem da humanidade.
Um artigo do médico Samuel Ribeiro, Ginecologista e Especialista na área da Medicina da Reprodução na Clínica IVI Lisboa.
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