O trabalho consome-nos, em números reais, cerca de não sei quanto por cento da nossa vida. Isto para sermos precisos porque eu não gosto de argumentar sem números, muito menos em altura de campanha eleitoral. Convenhamos que uma grande parte da nossa vida é passada ao lado de pessoas que nos forçaram a conviver. Às vezes é bom, outras vezes é menos mau, outras vezes é o que é. Com tanto tempo passado a trabalhar, tem de haver leis que nos defendam e protejam de todo e qualquer desaire.
Um tribunal francês considerou um "acidente de trabalho" a morte de um funcionário que teve um enfarte durante um acto sexual. Se, para alguns, isto não faz sentido, fiquem a saber que este desaire aconteceu durante um encontro, aquando de uma viagem de negócios. É fácil constatarmos que este trabalhador vestia a camisola pela empresa com a mesma velocidade com que a despia. Era vítima de trabalho extraordinário porque, convenhamos, é extraordinário que em pleno século XXI ainda se defenda desta forma o adultério, dado que o senhor em questão era casado e estas horas extra não foram feitas com a esposa. Para o tribunal francês, este homem praticou o acto em representação da empresa e isso tem de ser responsabilizado. Aquela senhora poderá falar nos quatro cantos do mundo, à boca cheia, se o material daquela empresa trabalha bem ou não, se tem durabilidade e se a entrega é feita dentro do prazo.
É preciso haver alguém que ateste a qualidade do felácio em horário laboral, do cunilíngua em horas extra ou, eventualmente, na ergonomia da canzana
Este homem era pau para toda a obra. Deslocou-se, em trabalho, para fechar um contrato e, fora do seu horário laboral, esforçou-se por abrir outras oportunidades. Para ele, é certo. Como fazia parte da empresa, consequentemente abriu para ela também. Há um provérbio que diz que "sempre que Deus fecha uma porta, abre uma janela". Claro que tudo o que é referente a Deus deve ser interpretado. Como a bíblia. O que este trabalhador fez foi fechar um contrato e abrir umas pernas. Basicamente comprovou que ser-se workaholic é deletério e traz tudo menos saúde.
A empresa foi obrigada a pagar uma indemnização, recusando-se a fazê-lo. Alega que o enfarte não aconteceu por razões laborais, além de não ter pago pelo hotel em que o trabalhador se encontrava. Isto só atesta as condições precárias com que trabalhamos todos os dias e é para isto que existe a CGTP. Além de deixarem o pobre homem a dormir ao relento, não tinha ajudas de custo para ter sexo fora de casa. A empresa argumenta, ainda, que o acto sexual foi um adultério, mas os procuradores classificaram o encontro como um "acto de vida normal, como tomar um duche ou comer". Quem nunca ouviu um "Zé, logo vens comer uma bucha connosco?" com a resposta "Eh pá, não vou conseguir mesmo. Já combinei ir fazer sexo com uma romena ao final do dia e apanhar os retroactivos do dia dela de trabalho". Ter relações sexuais à noite com uma profissional do sexo é um risco. Além do risco de se encontrar mais girinos do que num pântano, há o risco de apanhar o refervido de um dia de labuta. E com isto a entidade patronal não se preocupa, claro. Depois os acidentes acontecem.
Se falecer a desempenhar o amor numa viagem de negócios é considerado acidente de trabalho, tem de haver uma entidade que regule a prática e que averigue as condições destes trabalhadores. É preciso haver alguém que ateste a qualidade do felácio em horário laboral, do cunilíngua em horas extra ou, eventualmente, na ergonomia da canzana. É que isto não acontecendo, quem é que se responsabiliza por um eventual torcicolo na língua? Por uma contractura muscular na região lombar, devido às costas da outra pessoa não estarem ao nível dos cotovelos?
O mundo está a ficar um lugar estranho. É que, enquanto uns criticam esta conivência com o adultério, outros defendem que ainda há profissões do caralh*.
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