O médico Daniel Virella explicou que a alta do bebé depende da decisão do Estado para o acolher, nomeadamente da Comissão de Proteção de Crianças Jovens (CPCJ), reforçando que "clinicamente não há nada que impede de ter alta".
Em conferência de imprensa no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, o médico adiantou que não decorreu ainda o tempo suficiente para alguém que não os pais procederem ao registo do bebé. Se não surgirem os pais, será a CPCJ a assumir a responsabilidade pelo registo do bebé, reforçou Daniel Virella, acrescentando que “legalmente não cabe ao hospital”, pelo foi dado conhecimento do caso à tutela judicial e à tutela social do Estado.
“Atualmente, o bebé não apresenta qualquer problema. É um bebé saudável […]. Em termos físicos, está bem”, afirmou o responsável da unidade de cuidados intensivos neonatais do Hospital Dona Estefânia, referindo que o recém-nascido está a ser alimentado por biberão e “está com uma proteção antibiótica que se manterá talvez um dia ou dois mais até garantir que não está infetado”.
De acordo com o médico, trata-se de “um bebé que, não se sabendo o que se passou, ninguém diria que lhe aconteceu nada”.
“Devo dizer que foi feito um bom trabalho pela equipa do VMER do transporte de emergência, que aqueceu, estabilizou e hidratou a criança, nós só tivemos que completar o trabalho que foi iniciado”, declarou Daniel Virella, indicando que o trabalho mais complexo após a chegada do bebé ao hospital foi “dar-lhe um banho”.
No Hospital Dona Estefânia, foram feitas “as análises, os exames complementares, que são habituais numa situação dessas, e o resto foi, basicamente, cuidados de prevenção”.
Bebé está agora na Maternidade Alfredo da Costa
Após ter sido internado no polo de urgência de pediatria do Hospital Dona Estefânia, onde precisou de “cuidados quase mínimos”, o recém-nascido foi transferido para a Maternidade Alfredo da Costa por “não carecer de cuidados complexos médicos e cirúrgicos”.
Reforçando que a resposta social de acolhimento do bebé não compete às unidades hospitalares, o responsável do Hospital Dona Estefânia frisou que o hospital é um local onde estão internados doentes, “não estando doente, é um indivíduo que a sociedade, através do Estado, deve encontrar um local para onde o alojar em comodidade e em segurança até se resolver o seu problema social”.
Questionado sobre o tempo possível em que o bebé se pode manter no hospital, o médico revelou que há crianças que nascem e que ficam "até aos 18 anos”, por razões várias, pelo que há condições para tal, mas “não é o ambiente para uma criança que não está doente desenvolver a sua vida”.
“Cabe-nos garantir os cuidados que a criança precisa enquanto não nos é dada indicação para ser transferida para outra instituição, mas em termos clínicos não precisará de mais de 24, 48 mais, por segurança”, informou Daniel Virella, referindo-se à alta clínica do recém-nascido.
As autoridades receberam pelas 17h30 de terça-feira o alerta para um recém-nascido encontrado num caixote do lixo na Avenida Infante D. Henrique, perto da estação fluvial, em Santa Apolónia. "Ainda com vestígios do cordão umbilical", afirmou fonte da PSP.
Processo de adoção será rápido
Hoje, a presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC) defendeu um processo de adoção célere para o recém-nascido. "Casos deste tipo em menos de um ano estão resolvidos, sendo entregue a uma família", disse Dulce Rocha, presidente do IAC, à Rádio Renascença.
A procuradora salvaguarda que não está a par dos desenvolvimentos e das circunstâncias do caso. "Num caso tão óbvio que é o de rejeição da criança e de abandono, inclusive de pôr em perigo a vida, o que me parece é que o destino da criança deve ser um projeto de vida de adoção", acrescentou.
O desespero, um contexto de miséria, pobreza e isolamento são algumas das circunstâncias comuns a estes casos de abandono grave, disse Dulce Rocha numa outra entrevista, desta vez ao Diário de Notícias.
Nas redes sociais, mas também nos meios de comunicação social, tem sido divulgado o vídeo do momento do resgate da criança:
PJ já tem imagens de videovigilância
Segundo o jornal Expresso, a Polícia Judiciária (PJ) tem desde quarta-feira imagens de videovigilância que abrangem o ecoponto junto à discoteca Lux, em Lisboa, onde um recém-nascido foi abandonado horas depois do parto. As imagens foram entregues à PJ pelo Terminal de Cruzeiros de Lisboa.
Segundo André Serra, do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, foi um "cidadão sem-abrigo que ao passar no local ouviu sons no interior do caixote do lixo e ao abrir deparou com um recém-nascido sem qualquer tipo de proteção, roupa ou agasalho, simplesmente dentro do caixote como nasceu".
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) partilhou na quarta-feira no Instagram uma fotografia tirada à criança momentos depois do resgate.
Os responsáveis pelo abandono da criança incorrem no crime de exposição ao abandono de menor ou mesmo de infanticídio, dependendo da motivação do abandono, disse fonte da PSP.
Entretanto, o Ministério Público anunciou a instauração de um inquérito para averiguar o caso do recém-nascido, que "está clinicamente estável", segundo o hospital.
Com Lusa / Notícia atualizada às 18hoo
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