Despediu-se da esposa e dos três filhos numa manhã de fevereiro de 2021. Sentindo-se doente após chegar ao hotel onde trabalhava, decidiu ficar ali para evitar o contacto com eles.
Schneider, então com 40 anos, morreu um mês depois. Mas deixou aos entes queridos cartas que chegaram às suas mãos um ano depois de uma intensa busca.
A ideia das cartas tinha surgido em 2006, quando Schneider estava prestes a tornar-se pai, e pensou escrever algumas linhas para que a sua primogénita lesse quando fizesse 15 anos.
Fã dos Beatles, Schneider guardou as cartas ao lado da sua coleção de discos da banda inglesa, onde as esqueceu com o passar do tempo.
"Ele adorava essas coisas", disse a viúva, Alcione, que se lembra dele como um romântico.
"Reencontro"
Uns 14 anos depois de escrever as cartas, Schneider decidiu vender parte do seu tesouro para obter rendimentos após perder o seu emprego, como muitos, pelo impacto da pandemia.
Em 2021, as coisas pareciam melhorar. Schneider encontrou outro emprego num hotel a 280 km do local onde morava e a família mudou-se para lá.
Mas a segunda onda da pandemia, que alcançou, então, uma média móvel de 3.000 mortos em 24 horas, dissipou as esperanças e pôs fim à vida de Schneider em questão de dias.
Passou quase um ano até que Alcione se lembrou das cartas guardadas perto de algum dos discos vendidos. Foi ajudada na sua procura pelos amigos de Schneider, que publicaram um vídeo em fóruns de fãs dos Beatles, que acabou por viralizar.
Alcione recebeu em setembro a chamada de um homem que disse ter comprado discos vintage na época, mas que ainda não os tinha aberto. Ele atravessava uma depressão depois de perder um filho, também por causa da COVID-19.
Em dezembro os dois encontraram-se e Alcione recebeu uma cópia de "Imagine", de John Lennon, com três cartas dentro.
Bárbara, a primeira filha de Schneider, abriu a carta no mês passado, ao fazer 15 anos, como queria o remetente.
"Ele falou muitas coisas (na carta). Ele disse que era apaixonado pela minha mãe, falava dos Beatles, perguntava se o Paul McCartney ainda estava vivo", contou Bárbara entre risos e choro.
A carta termina abruptamente, como a sua vida, quando a caneta azul de Schneider ficou sem tinta.
Bárbara sentiu-se como se o seu pai estivesse a ler-lhe a carta. "A gente não conseguiu se despedir. Então, foi um momento para a gente se ver de novo. Era como se fosse um reencontro com ele", disse a jovem.
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