Após um ano de sucessivos estados de emergência e um longo confinamento, muitos sofrem com a “fadiga pandémica” devido aos inerentes isolamentos e desgaste emocional. Sabemos que a COVID-19 continuará a circular, o que obrigará a esforços regulares para a contenção da sua transmissão e serão necessárias soluções para reativar a vida cultural e social de forma paulatina. Além do confinamento, temos apenas a vacinação e estratégias de testagem frequente, como instrumentos de luta contra a pandemia.

Até ao momento, já foram administradas mais de 1.6 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 em Portugal, de acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Mesmo havendo um aumento de recursos, não será célere atingir o objetivo de vacinar 70% dos adultos, com vista a atingir a “imunidade de grupo”. O propósito da vacinação é oferecer proteção ao organismo contra sintomas severos que levem a uma hospitalização e morte, em caso de infeção, o que são excelentes notícias. No entanto, as regras de prevenção deverão ser mantidas mesmo após vacinação, especialmente porque mesmo imune a uma doença severa o indivíduo poderá constituir uma hipotética fonte de transmissão. A testagem pré-vacinação para detecção do vírus por PCR e a testagem pós-vacinação para avaliação da imunidade, seriam parte de uma abordagem integrada com a estratégia de vacinação. A avaliação da imunidade pós vacina, deve ser realizada pelo intermédio de testes serológicos específicos para a neutralização do vírus, isto porque embora a deteção dos anticorpos totais para COVID-19 permita detetar um contato prévio com o vírus, estes não são específicos para neutralização do mesmo.

Um modelo que segue as melhores práticas internacionais, tendo como exemplo Israel, compreendendo a criação de green zones, áreas onde através do seguimento da teoria test and trace, ou seja, testagem ampla e frequente com rastreio de casos positivos, consegue isolar infetados de forma muito eficaz. A testagem diagnóstica realizada por profissionais que façam a devida sinalização no Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, é o primeiro passo para uma resposta eficaz à pandemia. Além de permitir o seguimento e isolamento dos casos positivos, a sua frequência é essencial para a tomada de decisões de políticas de saúde.

Outra ideia é a criação de um programa que inclua o desenvolvimento de um passaporte digital de testagem e vacinação que pode permitir uma política de saúde pública que devolva alguma confiança e esperança aos cidadãos, aos visitantes (nomeadamente turistas) e à nossa deprimida economia. O programa teria como público alvo a população ainda não incluída nos atuais programas de testagem frequente, apresentando uma solução que apoie o necessário impulso económico aos sectores já tão castigados pela pandemia como o turismo, a organização de eventos e o comércio local, entre outros. A criação de um selo de testagem frequente, que atesta o esforço das empresas, instituições e entidades municipais em testar os seus colaboradores a cada 14 dias ou a cada mês, convergindo com a Norma no 019/202033, contribuiria igualmente para a segurança da comunidade. Esta medida, terá impacto não só a nível da segurança e da produtividade dos colaboradores, mas também a nível económico. Isto, porque com uma testagem frequente é possível identificar e rastrear rapidamente toda a cadeia de contacto de forma a evitar um surto nas empresas, o que levaria ao seu encerramento e às perdas económicas daí decorrentes.

Outra sugestão é a criação de locais ou pontos de testagem rápida aleatórios, em vários pontos dos concelhos, tendo como referência as medidas adotadas na Áustria. Estas medidas visam compensar o desconfinamento com uma testagem massiva frequente, em que cada individuo tem direito a realizar cinco testes rápidos suportados pelas autoridades por mês. A criação de Walking-Thrus em infraestruturas municipais poderá ser uma excelente iniciativa que em muito contribuiria para a identificação imediata de potenciais infetados.

A testagem frequente a assintomáticos diminui a transmissão, dando menos oportunidades ao vírus de sofrer mutações, permite aferir a eficácia das estratégias de redução de risco em curso e previne uma próxima pandemia por oferecer uma janela crítica da actividade do vírus. Os sectores público e privado podem unir recursos e capacidades para melhor combater as consequências da pandemia, contribuir para um regresso à normalidade e apoiar as atividades mais negativamente afetadas pela pandemia.

Só as estratégias mencionadas permitem o regresso à “normalidade” em segurança, no contexto actual. E que as nossas políticas permitam um regresso à vida!

Um artigo da especialista Joana Vicente, doutorada em Farmácia e Diretora Técnica e CEO da Test it lab.