É naquele concelho do distrito de Lisboa que a estudante do quinto ano de medicina veterinária se desloca à casa das pessoas que deixaram de poder passear os cães.
Luísa Pinheiro toca à campainha. Do outro lado, encontra-se a dona Antonieta que já não sai de casa há mais de um mês. Teve um problema num joelho e nunca mais saiu.
“Pertence ao grupo de risco. Antes disto [a quarentena] começar ela teve um problema no joelho — em meados de março — e desde aí não pode sair casa. Tem amigas que vão às compras por ela e agora inscreveu-se neste projeto do ‘Vizinho e Cãopanhia'”, explica a voluntária, em declarações à agência Lusa.
À porta do apartamento, a estudante universitária recebe o cão para passear. Chama-se Alf – como o da série dos anos 80 – e a dona com mais de 70 anos faz questão de exclamar que é “um cão do outro mundo”.
Mas este Alf “não é do outro mundo” e precisa de ser passeado, porque “não faz muito exercício”.
“Tem seis anos. Precisa de fazer mais exercício”, realça Luísa Pinheiro, de 23 anos, lembrando que “a dona também disse que ele não fazia muito exercício: chegava a casa do passeio [de manhã] e deitava-se logo na cama, e só se levantava à noite para voltar a passear”.
Estudante na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, a voluntária no projeto “Vizinho & Cãopanhia” (https://aefmvcovid19.wixsite.com/vizinhoecaopanhia) assinala que é importante ajudar os grupos de risco.
“É fácil. Nós agora estamos a ter aulas ‘online’. Podemos tirar meia hora para vir aqui. Estes passeios são sempre no local de residência. Ou seja, eu moro no mesmo sítio que a senhora, portanto, não me custa nada tirar um bocadinho [de tempo] para vir cá passear [o cão]”, revela, esboçando um sorriso.
Por entre aguaceiros e raios de sol, Alf é passeado cerca de uma hora num jardim próximo da casa da dona. Brinca com outros cães que aparecem pelo caminho e faz as suas necessidades fisiológicas.
De acordo com Luísa Pinheiro, esta foi a primeira vez que passeou o cão da dona Antonieta, que tem sido passeado por mais duas colegas da plataforma de voluntariado – exclusiva aos estudantes de medicina veterinária e de enfermagem veterinária.
“Este foi o projeto que me identifiquei mais e, então, decidi ajudar ao tornar-me voluntária”, afirma a universitária, acrescentando que vai tentar “fazer com que as pessoas tenham dias mais fáceis”.
Para Luísa Pinheiro, os dias tornam-se “mais bonitos” com os passeios porque pode ajudar quem mais precisa.
Com vontade de fazer a diferença, a voluntária assegura ainda que faz sentido o projeto “Vizinho e Cãopanhia” abranger apenas os alunos da área da veterinária, uma vez que há pessoas que não se sentem à vontade em entregar os seus animais a qualquer um.
“Sabem que vão ter uma garantia, que os estudantes de medicina veterinária ou de enfermagem veterinária vão saber cuidar bem dos seus cães. Eu também acho que não daria o meu cão a qualquer pessoa sem saber se iria tratar bem ou não”, frisa.
Lançada em 27 de março, a plataforma “Vizinho e Cãopanhia” surgiu da necessidade de assegurar os passeios dos animais de companhia de grupos de risco, durante a pandemia da covid-19, segundo a Associação dos Estudantes da Faculdade de Medicina Veterinária (AEFMV) da Universidade de Lisboa.
Comentários