A fadiga da pandemia corresponde a um sentimento de sobrecarga, por nos mantermos constantemente vigilantes. Esta saturação está associada ao cansaço, por obedecermos a restrições e a alterações na nossa vida que se arrastam desde a primeira quinzena de março de 2020. O surto de COVID-19 exigiu e continua a exigir de todos nós uma grande capacidade de adaptação. Adotámos novos comportamentos, seguimos novas regras e alterámos o nosso quotidiano, praticamente de um dia para o outro.

A crise provocada pelo novo coronavírus já dura há meses e, na reta final de 2020, ainda não é possível prever o seu fim. É natural que nos possamos sentir menos motivados para seguir as orientações e os comportamentos de proteção, após tantos meses a viver com limitações, sacrifícios e incerteza. É, por isso, natural que nos sintamos cansados e fartos de toda esta situação. A fadiga da pandemia pode provocar indiferença e a Ordem dos Psicólogos Portugueses, atenta ao problema, já alertou para isso.

Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses está preocupado. "Há pessoas que não vão conseguir regressar à vida ativa sem ajuda profissional"
Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses está preocupado. "Há pessoas que não vão conseguir regressar à vida ativa sem ajuda profissional"
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Devido à fadiga da pandemia, a nossa perceção de risco relacionada com a COVID-19 pode diminuir, adverte um artigo publicado no site da revista Prevenir. Já nos habituámos à existência do novo coronavírus e temos presentes todas as dificuldades que resultam das medidas de proteção, para nós próprios e para a sociedade, contra o vírus SARS-CoV-2. Não é fácil perspetivar o futuro e lidar com as alterações frequentes das orientações das autoridades de saúde, à medida que também evolui o número de casos e as dinâmicas do surto. Não é fácil lidar com a desinformação. A disseminação de informação falsa, contraditória e, em muitos casos, sem fundamento científico, coloca-nos a todos em risco, como revela um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os dados confirmam que o cansaço da pandemia já atinge 60% da população global. Esta saturação está a ter impacto na saúde psicológica de milhões. Os efeitos colaterais da pandemia, o desemprego, a perda de rendimentos e/ou a deterioração das condições de vida, por exemplo, são igualmente devastadores. A crise pandémica e socioeconómica gera insegurança, medo e ansiedade acerca do presente e do futuro, podendo mesmo vir a agravar as dificuldades e os problemas de saúde psicológica.

Há estimativas internacionais que preveem que entre 20% a 30% das pessoas, em todo o mundo, sofram na pele o impacto psicológico da pandemia. Para além de uma ansiedade acrescida e de maiores níveis de stresse, é esperado um aumento dos casos de depressão. Também é o caso? Se já sente fadiga da pandemia, são várias as regras que a Ordem dos Psicólogos Portugueses sugere para minimizar os impactos desta saturação. Apesar do cansaço, é altura de redobrar esforços para combater o vírus.

Os nossos comportamentos são críticos para conter a sua propagação e também para nos protegermos a nós e protegermos os outros. É importante continuar a fazer a nossa vida, a procurar atividades que aumentem o nosso bem-estar e, simultaneamente, possam minimizar o risco em todas as situações em que nos encontremos. Comprometa-se. Usar máscara, lavar as mãos e manter o distanciamento físico é como parar no sinal vermelho ou usar o cinto de segurança. Mantenha-se seguro a si e aos outros.

Repita e insista. Há comportamentos que temos de repetir até se tornarem um hábito e os fazermos sem esforço. Tenha, por isso, sempre à mão aquilo de que necessita. É mais fácil não nos esquecermos se tivermos sempre desinfetante à mão, assim como uma máscara na mala, no carro e na entrada de casa. Para além disso, aceite e persista, não desista. A pandemia ainda está para durar, mas adaptar a nossa vida ao coronavírus SARS-CoV-2 não só é possível como também é (muito) necessário.

Há poucos anos, era comum a oferta de um número elevado de sacos de plástico descartáveis nos supermercados. Hoje, tal não sucede e adaptámo-nos a essa nova realidade, ajustando o nosso comportamento. Não são realidades comparáveis, é certo, mas o devir dos tempos obriga-nos a interiorizar novos hábitos. De início, muitos deles estranham-se mas, com o tempo, por força das circunstâncias, entranham-se. Um dia, poderemos baixar as guardas. Neste momento, não é possível fazê-lo.