Em declarações à agência Lusa, a coordenadora do projeto e investigadora do instituto do Porto, Ana Filipa Sequeira, explicou hoje que o projeto, intitulado AUTOMOTIVE, visava "desenvolver um sistema robusto, centrado no condutor, usando várias fontes de informação que apreendem os padrões pessoais únicos de cada condutor e permitem deteções cada vez mais precisas".
“Os acidentes rodoviários têm um impacto muito significativo na nossa sociedade e a sonolência é uma das principais causas de acidentes em Portugal”, observou a investigadora, destacando que essa foi a principal motivação para o desenvolvimento do projeto.
Além de investigadores do INESC TEC, participaram no projeto investigadores da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL) e da empresa CardioID.
O projeto, centrado no condutor, desenvolveu um “sistema robusto” que recorreu a várias fontes de informação, como vídeos, sinais fisiológicos e sensores, para “melhorar a deteção de estados que possam pôr em causa a segurança da condução”.
Nesse sentido, os investigadores criaram simuladores “realistas” para potenciar recolhas de dados mais completas, e desenvolveram algoritmos para a biometria, deteção de sonolência e reconhecimento de emoções.
“Esta é uma área de investigação com muitos desafios e problemas em aberto”, salientou Ana Filipa Sequeira, dando como exemplo a inexistência de dados para a investigação.
Por detrás do “sistema robusto” de monitorização está a variabilidade cardíaca, sinal fisiológico que “permite identificar a sonolência no condutor”.
“Está comprovado que um estado de sonolência precede um episódio de sono. Se um estado de sonolência é detetado, o corpo está já em luta para permanecer acordado, possivelmente escapando para momentos de microssono no processo”, disse a investigadora, acrescentando, contudo, que a forma como a sonolência afeta o desempenho dos condutores é muito variável.
“Ainda assim, podemos com segurança afirmar que em estado de sonolência o sistema cardíaco altera o comportamento. Quando um condutor está sonolento, a sua frequência cardíaca torna-se mais lenta e irregular, e a pressão arterial desce”, notou Ana Filipa Sequeira.
Ao mesmo tempo, os investigadores desenvolveram duas plataformas de simuladores onde detetaram as métricas cardíacas (através de sensores embutidos no volante), 78 pontos de referência da face (através de um ‘vídeo face’), a aceleração e travagem, bem como o controlo de velocidade e acompanhamento de faixa de rodagem.
“O simulador permite integrar eventos específicos de tráfego e investigar a capacidade de reação do condutor”, afirmou a investigadora, acrescentando que as tecnologias desenvolvidas vão permitir a “criação de sistemas de prevenção, deteção e alarme de eventos associados à sinistralidade”.
A tecnologia AUTOMOTIVE vai ser aplicada, inicialmente, em frotas de veículos pesados, sendo que os investigadores esperam que também possa vir a ser integrada em veículos ligeiros de passageiros.
À Lusa, Ana Filipa Sequeira disse que apesar das várias contribuições do projeto para o desenvolvimento de um sistema robusto que apreenda os padrões pessoais únicos de cada condutor, “muitos obstáculos ainda não foram ultrapassados”.
“O passo seguinte nesta investigação é reunir esforços dedicados à integração total desses algoritmos num sistema final de deteção de sonolência e fadiga”, referiu.
O projeto foi financiado pela União Europeia e fundos públicos nacionais em cerca de 250 mil euros.
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