Uma equipa coordenada por investigadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicou na Science Advances um estudo em que detalha o novo dispositivo, que combina eletrónica flexível e células estaminais para se integrar melhor com o nervo e potenciar a função das extremidades, noticiou esta quarta-feira a agência Efe.
O uso de implantes neurais para restaurar a função do membro é desafiador, e a maioria das tentativas falhou devido à formação do tecido cicatricial ao redor dos elétrodos ao longo do tempo, impedindo a conexão entre o dispositivo e o nervo.
No novo dispositivo, os investigadores colocaram uma camada de células musculares reprogramadas a partir de células-tronco entre os elétrodos e o tecido vivo, e descobriram que o implante se integrava ao corpo do hospedeiro e impedia a formação de tecido cicatricial.
Esta é a primeira vez que células-tronco pluripotentes induzidas são usadas desta maneira num organismo vivo, sublinharam os investigadores.
As células sobreviveram no elétrodo durante os 28 dias que durou a experiência, sendo que esta é "a primeira vez que esse fenómeno é observado por um período tão longo", realçou a Universidade de Cambridge.
"Estas células dão-nos um tremendo grau de controlo", sublinhou Damiano Barone, um dos autores do estudo.
“Podemos dizer-lhes como se comportar e controlá-los ao longo da experiência. Ao colocar as células entre a eletrónica e o corpo vivo, o corpo vivo não vê os elétrodos, ele apenas vê as células, então nenhum tecido cicatricial é gerado”, acrescentou.
Os cientistas referem que, ao combinar duas terapias avançadas para regeneração nervosa - terapia celular e bioeletrónica - num único dispositivo, as deficiências de ambas as abordagens podem ser superadas, melhorando a funcionalidade e a sensibilidade.
O dispositivo "biohíbrido" foi implantado no antebraço paralisado de ratos. As células-tronco, transformadas em células musculares antes da implantação, foram integradas aos nervos do antebraço do animal.
Os ratos não recuperaram o movimento no antebraço, mas o dispositivo foi capaz de captar sinais do cérebro que controlam o movimento. Se conectado ao restante do nervo ou a uma prótese, o dispositivo pode ajudar a restaurar o movimento.
Embora ainda tenham de ser desenvolvidas mais investigações e testes antes de poder ser utilizado em humanos, o dispositivo é um "desenvolvimento promissor para amputados ou pessoas que perderam a função de um ou mais membros", frisou a Universidade de Cambridge em comunicado.
Além de seu potencial para restaurar a função em pessoas que perderam o uso de um ou mais membros, os investigadores salientam que o seu dispositivo também pode ser utilizado para controlar próteses interagindo com axónios específicos responsáveis pelo controlo motor.
Esta interface "poderia revolucionar a forma como interagimos com a tecnologia", destacou Amy Rochford, também autora do estudo.
“Combinando células humanas vivas com materiais bioeletrónicos, criamos um sistema que pode comunicar com o cérebro de forma mais natural e intuitiva, o que abre novas possibilidades para próteses, interfaces cérebro-máquina e até mesmo para melhorar a capacidade cognitiva”.
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