O feijão é a leguminosa de maior consumo humano nacional com 12 milhões de toneladas produzidas anualmente, no entanto, esta espécie pode ser afetada pela fusariose, uma doença causada por um fungo do solo, que penetra na planta pela raiz, acabando por bloquear a passagem de água, provocando um efeito semelhante ao da seca.
É aqui que o estudo do germoplasma português de feijão, ou seja, o conjunto das variedades nacionais selecionadas pelos agricultores ao longo do tempo, bem como as conservadas, no frio, no banco de germoplasma, entra, identificando as zonas ou genes que apresentam uma maior resistência à doença, conforme explicou à Lusa a investigadora Carlota Vaz Patto, que lidera o laboratório PlantX.
“No trabalho que fizemos, o objetivo era tentar caracterizar o feijão português para percebermos se ele tinha alguma resistência ou não a esta doença”, indicou a responsável, acrescentando que, por um lado, foram identificadas fontes de resistência, “que podem entrar em programas de melhoramento para produzir variedades com mais resistência”.
Mais de metade das amostras analisadas são total ou parcialmente resistentes à fusariose, apurou o estudo.
Adicionalmente, foi localizado, no genoma do feijão, os genes que controlam a resistência a esta doença.
Com o desenvolvimento de variedades naturalmente mais resistentes será ainda possível reduzir a utilização de fungicidas, notou Carlota Vaz Patto.
Para esta análise, que contou com o financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, foram selecionadas variedades que cobrem as zonas que produzem feijão em Portugal, bem como as variedades comerciais, como o feijão vermelho ou manteiga.
Segue-se agora o processo, apoiado por fundos do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), de aplicação da informação recolhida no estudo num plano de melhoramento do feijão nacional, juntando a resistência a este fungo a outras “características interessantes” para os consumidores de feijão.
Trata-se, por exemplo, de “juntar a resistência às doenças com a maior qualidade nutricional ou organolética e tentar obter variedades mais atrativas para os agricultores” e também para os consumidores, avançou a também investigadora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa.
O primeiro passo consistiu assim no cruzamento entre variedades para, posteriormente, selecionar as que conseguem juntar as diversas características em causa.
"Temos financiamento para os próximos três anos, neste projeto de melhoramento, mas é um trabalho a longo prazo que vai continuar depois. Com três anos vamos conseguir chegar a uma etapa em que ainda estamos a otimizar os resultados dos cruzamentos que foram iniciados. É um processo de seleção que demora algumas gerações. Este tipo de melhoramento de plantas demora sempre vários anos", concluiu.
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