A disseminação acentuada da COVID-19 em janeiro está associada ao aumento dos contactos estabelecidos nas duas épocas festivas no final do ano, ao surgimento da nova variante inglesa do coronavírus, que está a preocupar a comunidade científica, porque se acredita que pode ser mais contagiosa e está já a ser identificada em diversos casos, mas é muito importante frisar que o crescente recurso aos testes de antigénio que se tem vindo a verificar pode contribuir ainda mais para esta disseminação do SARS-CoV-2.
O desempenho destes testes depende muito do contexto clínico e epidemiológico em que são utilizados, sendo recomendada ponderação e reserva na sua utilização em casos sem critérios clínicos e epidemiológicos. Devem ser usados até ao quinto dia de sintomas, nos hospitais onde não exista testes PCR (teste molecular) e em surtos concretos, onde é preciso isolar os casos positivos de forma rápida.
Têm uma sensibilidade mais baixa do que os testes PCR e, portanto, a probabilidade de obter resultados falsos negativos é maior. Um resultado negativo nesta tipologia de teste não permite excluir, por si só, uma infeção pelo SARS-CoV-2. O resultado negativo tem de ser avaliado junto com a restante informação clínica e com o enquadramento epidemiológico de cada pessoa e deve ser realizado um teste PCR.
Tem-se assistido a uma utilização generalizada e por vezes sem controlo dos testes de antigénio, em empresas, escolas e até mesmo por parte de famílias, pois surge aquela ansiedade de realizar um teste com “resultado rápido” e que as descanse para contactos com familiares, colegas, criando assim esta "falsa sensação de segurança" e que em muitos casos gera contágios e a disseminação do SARS-CoV-2.
O teste PCR continua a ser o teste de diagnóstico de eleição. É um teste molecular que pesquisa ácido ribonucleico (RNA) do genoma do vírus SARS-CoV-2. A amostra, recolhida através de exsudado nasal obtido por zaragatoa segue para laboratório e os resultados são conhecidos num prazo de 48 horas. É um teste 100% exato e apenas funciona na sua totalidade a partir do terceiro dia de uma possível infeção, dado que só após o período de incubação é que o vírus realiza cinco a dez cópias por microlitro de sangue, o suficiente para que a sua ação no organismo se torne detetável. Os falsos positivos são raros e a taxa de falsos negativos é muito inferior à dos testes de antigénio.
Um artigo do médico Germano de Sousa, especialista em Patologia Clínica.
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