“Posso fazer um balanço muito positivo, sobretudo tendo em conta o que os doentes e os seus cuidadores nos têm transmitido. Temos uma taxa de aceitação e de satisfação global de 98%. Isto é muito pouco frequente nos hospitais hoje em dia”, sintetizou José Roberto.
Em dois anos, a UHD acompanhou “cerca de 500 doentes” e retirou do modelo convencional de internamento “mais de quatro mil dias”, o que acabou por se traduzir “numa poupança a todos os portugueses de “25% a 30% por doente”.
Na coordenação da unidade desde a sua criação, em 15 de abril de 2019, este médico disse aos jornalistas que ambiciona que a hospitalização domiciliária “deixe de ser uma mera alternativa ao internamento convencional para ser a melhor alternativa”.
Atualmente, este modelo é voluntário e, para o futuro, José Roberto desejou que “seja a primeira alternativa” e disse acreditar ser possível, porque “muitos doentes” que chegam à urgência com necessidade de internamento “já questionam se não podem ficar em casa”.
Uma outra ambição, para os próximos dois anos, “é continuar a crescer de forma sustentada e segura”, para que a hospitalização domiciliária “seja muito mais do que é, com mais doentes, mais capacidade instalada e a possibilidade de, se calhar, passar para 30 camas”, o dobro das atuais, tendo em conta que começaram com seis.
José Roberto disse, a propósito do segundo aniversário da unidade, que está “perfeitamente convicto” e explicou poder “assegurar com algum grau de certeza” de que este sistema “é a melhor alternativa para os doentes que reúnam os critérios, para o hospital e para o SNS”.
“Uma das nossas dificuldades, se não a maior mesmo, tem a ver com o nosso distrito, que é muito disperso, e é muito difícil garantir a equidade em hospitalização domiciliária num distrito tão grande”, admitiu.
José Roberto disse que, “ao contrário de muitas outras unidades, em dois anos, a de Viseu fez 120 mil quilómetros, dificilmente outra unidade fez tantos quilómetros” e, agora, em altura de pandemia, a UHD assumiu o compromisso de aumentar o raio de ação, “para retirar doentes do hospital”.
“Existem critérios que sustentam esta hospitalização e a segurança do doente é fundamental para nós, sempre. Entre os critérios está o clínico, que é fundamental, porque têm de estar clinicamente estáveis e geograficamente não podem estar muito distantes do hospital de Viseu”, defendeu.
A distância que não se mede em quilómetros, mas sim em tempo: “inicialmente era de 30 minutos”, alargou agora para “os 40 minutos, porque o tempo e a experiência também deram alguma segurança” aos profissionais que compõem a equipa - dois médicos e sete enfermeiros.
A enfermeira coordenadora anuiu com José Roberto e acrescentou que uma das mais-valias também é conseguir “fazer os cuidados centrados na pessoa, como um todo”, uma vez que acontecem “num sítio privilegiado que é no conforto deles, na sua casa, no seu sofá, na sua televisão, com a comida que mais gostam e nos seus horários, sem terem de alterar o seu quotidiano”.
“É a grande diferença, assim como a disponibilidade a cada família, tanto ao doente como ao cuidador”, destacou Helena Rosário, que admitiu que isso se reflete na recuperação, “porque está com uma satisfação muito mais elevada do que se estiver no hospital e também está junto da sua família, porque ninguém consegue substituir o afeto da família”.
“O doente tem mais autonomia e menos infeções hospitalares e nos idosos a autonomia é o que mais se destaca, porque aqui está totalmente dependente, num ambiente desconhecido, e em casa vai à cozinha e à sala e é muito mais independente”, disse.
Uma recuperação que, segundo José Roberto, “é um facto, apesar de não haver nenhuma escala que o diga”, mas este responsável assume que “é factual que os doentes do ponto de vista cognitivo melhoram extraordinariamente e a sua independência tem reflexos na sua recuperação”.
“Posso dizer que um doente em hospitalização domiciliária tem uma demora média de internamento, e em termos nacionais, de um, a dia e meio, abaixo de um doente que está no hospital e só por aqui pode dizer-se que a taxa média de hospitalização é inferior”, afirmou.
Outra vantagem que o médico destaca é a de que “existe uma redução substancial dos recursos aos cuidados de saúde até três meses”, um dado que preenche nos relatórios semestrais das auditorias de que são alvo, “por ser uma unidade nova” e assumindo que “os dados do hospital podem não estar tão atualizados” como os da UHD.
Isto, porque, explicou, “ao fazer o acompanhamento em casa há também uma capacitação da família e do cuidador” assim como uma “literacia em saúde que se faz e tem uma importância brutal”.
“Em Viseu, após a alta, contactamos todos os doentes uma semana depois, para saber se há alguma dificuldade ou se há necessidade de fazer algum ajuste. E todos os doentes que têm alta, com exceção dos óbvios, porque já têm outro tipo de acompanhamento, têm uma consulta de seguimento para orientar o doente”, adiantou José Roberto.
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