Não existe uma tradução direta para este termo. "Ikigai é a sua razão de viver", diz o neurocientista japonês Ken Mogi. "É o motivo que o faz acordar todos os dias", acrescenta em declarações à radiotelevisão britânica BBC.
O conceito Ikigai nasceu em Okinawa, um grupo de ilhas a sul do Japão com uma população de moradores centenários acima da esperança média de vida média, mesmo para os padrões japoneses.
Muitos acreditam que o ikigai é o segredo da sua longevidade. O termo é bem conhecido em todo o país, como explica o neurocientista Mogi. Segundo este autor, é "muito importante identificar as coisas que se gosta de fazer e que dão prazer, porque são elas que dão propósito à vida e conduzem a uma existência longa e feliz".
"Não se trata apenas de viver por um longo tempo, mas de aproveitar a vida e saber o que se quer fazer com ela", defende ainda.
Como podemos encontrar o nosso ikigai?
Não é difícil, garante Mogi. "Em geral, somos tão obcecados com o sucesso e com as grandes metas que a vida acaba por se tornar intimidadora. O bom do ikigai é que se pode partir de coisas pequenas até se chegar aos grandes objetivos", diz o investigador.
"Qualquer um pode partir do que está ao seu alcance e começar a sentir-se bem e a experimentar os benefícios que isso traz antes de, gradualmente, evoluir para objetivos maiores", explica. Porém, todo esse bem-estar depende de um pequeno detalhe: encontrar um ikigai.
"Parta do zero, olhe-se no espelho: que tipo de pessoa é? Pense no passado e no que lhe dá prazer. Isso dará uma pista. Como neurocientista, acredito que as coisas que nos dão prazer são reflexos do tipo de pessoas que somos", descreve.
Há muitas formas de prazer e por isso é importante ter vários ikigais, dos mais simples aos mais ambiciosos. "A maioria das religiões só acreditam em um Deus. Mas, no Japão, acreditamos que há 8 milhões de deuses", diz Mogi.
"Isso influencia a forma como os japoneses veem o ikigai: não acreditamos que há só uma coisa importante, não perseguimos apenas um objetivo, pode haver milhares de coisas diferentes que podem dar prazer."
Mogi dá um exemplo: "o meu ikigai menor é correr 10 km em Tóquio todos os dias. Mas, como cientista, a minha maior alegria é ter ideias novas e, talvez, dar uma contribuição para o mundo. Isso também é o meu ikigai".
Mas o ikigai funciona mesmo?
Mogi garanque que sim e aponta estudos realizados pela Universidade Toho, em Tóquio, que investigam o sentido e significado da vida e a sua correlação com a taxa de mortalidade em idosos.
De acordo com estudos realizados com idosos com um estilo de vida equilibrado, há uma correlação entre longevidade e ter uma razão de viver: o seu sistema imunitário - e, em especial, um tipo de glóbulo branco, o neutrófilo - atua melhor, ajudando a mantê-los saudáveis por mais tempo.
Num outro estudo, a neuropsicóloga americana Patricia Boyle, do Centro Rush para a Doença de Alzheimer, em Chicago, acompanhou 900 idosos que corriam o risco de desenvolver demência durante sete anos e concluiu que aqueles que tinham uma boa noção do seu propósito de vida tinham 50% menos hipóteses de ficar doentes.
"O cérebro humano tem uma capacidade incrível de regular as funções do corpo. Em alguns casos, pode curar-se por conta própria, como demonstrado pelo efeito placebo", afirma Mogi. "Se achar o seu ikigai, as pequenas coisas que dão significado à vida podem ajudá-lo a preservar a sua saúde por mais tempo", conclui.
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