A investigação, publicada na revista científica 'Science Translation Medicine', permitiu desvendar "o mecanismo" que leva ao aparecimento de doenças autoimunes, adianta hoje, em comunicado, o instituto da Universidade do Porto.
As doenças autoimunes caracterizam-se pela incapacidade do sistema imunitário em distinguir "o próprio do não-próprio", "o que o leva a atacar" as próprias células e desencadear um "processo inflamatório crónico".
Estas doenças, debilitantes, incapacitantes e sem cura, têm particular impacto na qualidade de vida dos doentes.
No estudo, a equipa do i3S centrou-se no lúpus e tentou perceber "até que ponto a presença anómala de açúcares alterados à superfície do rim" determina o seu aparecimento.
O lúpus é uma doença autoimune “complexa”, uma vez que o sistema imunitário pode atacar qualquer parte do corpo (rins, cérebro, coração, pulmões, sangue, pele e articulações). Mais de 90% dos doentes com lúpus são mulheres e a doença surge, frequentemente, entre os 15 e 45 anos.
Citada no comunicado, a investigadora que liderou o estudo, Salomé Pinho, explica que o sistema imune "ativa um certo tipo de células imunológicas que levam à produção de moléculas pró-inflamatória, contribuindo assim para o estabelecimento do processo inflamatório".
Tal permitiu aos investigadores identificar "um novo mecanismo subjacente" ao desenvolvimento da doença autoimune.
Também a primeira autora do estudo, Inês Alves, acrescenta que a investigação permitiu descobrir "que é possível reparar esta modificação anómala de glicanos e controlar, desta forma, a resposta imunológica auto-reativa, evitando que o rim seja atacado pelas células imunes e prevenindo, assim, o desenvolvimento do lúpus”.
A descoberta abre portas para "o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para o tratamento de doenças autoimunes".
A investigação foi também distinguida com um prémio de inovação de 280 mil euros pela associação americana Lupus Research Alliance (LRA).
"A descoberta de um novo mecanismo subjacente à resposta imune descontrolada que caracteriza o lúpus abre portas para investigarmos novas abordagens terapêuticas que podem ter impacto num leque alargado de doenças autoimunes. O prémio irá permitir transformar este mecanismo num alvo terapêutico e, assim esperamos, controlar a doença e melhorar a qualidade de vida destes pacientes", acrescenta Inês Alves.
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