O projeto está a ser desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e pelo Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS).

Em comunicado enviado à agência Lusa, a FMUP realça que a meta é criar uma ferramenta adaptada à população portuguesa, testá-la em médicos de família, a partir do próximo ano, e, a longo prazo, tentar a sua integração com os sistemas de informação utilizados nos cuidados de saúde primários.

“O programa de prescrição médica eletrónica acabou com o papel, mas não é inteligente nem amigável, pois não comunica com o médico, não avisa, por exemplo, que a dose que estou a prescrever não é a mais correta. Podemos dizer que o médico tem de saber, mas a verdade é que há cada vez mais informação e é impossível abarcar tudo. Não podemos basear-nos apenas na memória”, explica o investigador e professor da FMUP Luís Monteiro, citado no comunicado.

Assim, o objetivo da ferramenta eletrónica que está a ser já aplicada em outros países é ajudar os médicos a detetarem e a descontinuarem os fármacos que já não são necessários ou que podem estar a causar mais dano do que benefício aos doentes que os tomam.

“A ideia surgiu depois de ter visto, ainda como estudante de Medicina da FMUP, os sacos com várias caixas de medicamentos, alguns com o mesmo princípio ativo, que os idosos levavam para a consulta. Da minha experiência como médico de família, este tema é cada vez mais importante”, acrescenta Luís Monteiro.

O investigador realça que “os doentes idosos têm mais tendência a apresentar problemas relacionados com a medicação por estarem polimedicados”.

De acordo com dados da FMUP, em Portugal estima-se que cerca de 77% da população mais velha tome mais de cinco medicamentos em simultâneo.

As barreiras à “desprescrição” neste grupo etário incluem a falta de tempo dos médicos, mas, com esta ferramenta, os médicos poderão fazer pesquisas e aceder a propostas sobre quais os medicamentos que deverão descontinuar nos seus doentes e de que forma devem fazê-lo.

Segundo o professor da FMUP, “não se trata de adicionar mais uma janela ou de diminuir o tempo de contacto com o doente”.

“Pelo contrário. Queremos diminuir o tempo de ecrã precisamente porque libertamos o médico da tarefa de ler, dando sugestões, sem substituir a decisão partilhada entre o médico, o doente e a família”, refere.

A FMUP realça ainda que estão a ser estudadas outras estratégias para aumentar a qualidade e segurança da prescrição, nomeadamente a aplicação de instrumentos que estabeleçam um canal de comunicação entre médicos de família, médicos hospitalares e farmacêuticos.

Este trabalho, publicado na revista científica PLOS ONE, foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

Além de Luís Monteiro, a equipa agrega os investigadores Sofia Baptista, Inês Ribeiro Vaz, Andreia Teixeira e Matilde Monteiro Soares, da FMUP/CINTESIS, James McCormack, da University British Colúmbia (Canadá), Cristiano Matos, do Instituto Politécnico de Coimbra, e Carlos Martins, do CINTESIS.