Começam por notar falhas na concentração, irritabilidade fora do habitual, o sono deixa de cumprir a sua função reparadora, a energia diminui sem aviso. E o cansaço instala-se como estado permanente. Muitos continuam a liderar equipas, a tomar decisões críticas, a manter uma aparência de controlo. Mas por dentro, o esgotamento já começou.

É a este tipo de perfil — líderes, médicos, gestores, quadros em funções de alta responsabilidade — que se dirige o novo programa clínico que acaba de ser lançado em Lisboa, com assinatura da psicóloga clínica Marta Pimenta de Brito. Chama-se “Liderar sem Romper” e propõe uma intervenção estruturada, intensiva e confidencial, com base em modelos de elevada precisão já aplicados na Suíça.

Ao contrário de abordagens mais comuns no universo do desenvolvimento pessoal, este não é um programa de coaching nem assenta em estratégias motivacionais. De acordo com a psicóloga clínica trata-se de uma resposta clínica rigorosa, com duração de seis semanas, que inclui avaliação psicológica aprofundada, sessões semanais (presenciais ou online), plano individualizado de recuperação e apoio contínuo entre consultas.

Marta Pimenta de Brito, que estudou e exerceu em instituições como Harvard Medical School e a Universidade de Zurique, trabalhou nas últimas duas décadas com profissionais sob pressão em vários contextos internacionais. Segundo explica, o objetivo é devolver clareza mental e capacidade de decisão a quem já se encontra num ponto de exaustão avançada, muitas vezes sem se dar conta da gravidade do estado em que chegou.

“Liderar sem Romper”: chega a Portugal um modelo clínico destinado a profissionais em risco de colapso
“Liderar sem Romper”: chega a Portugal um modelo clínico destinado a profissionais em risco de colapso Marta Pimenta de Brito é psicóloga clínica e responsável por este programa. créditos: DR

O programa pode ser realizado em português, inglês, alemão ou espanhol, e está sedeado em Lisboa, embora o formato híbrido permita acompanhamento à distância. Inclui também uma fase final de reintegração estratégica, pensada para facilitar o regresso pleno à atividade, depois de estabilizado o estado clínico.

De acordo com os testemunhos recolhidos junto de participantes anteriores, os efeitos mais frequentes incluem melhoria da capacidade de raciocínio sob stress, recuperação do sono e diminuição dos sintomas físicos associados ao burnout. Em muitos casos, este é o primeiro espaço onde estas pessoas conseguem parar, reflectir e voltar a pensar de forma estruturada sobre os próximos passos.

Segundo a psicóloga, a ausência de espaços clínicos especializados neste tipo de realidade tem deixado muitos profissionais numa espécie de vazio: demasiado funcionais para recorrerem à urgência médica, mas já sem condições reais para manterem o nível de desempenho exigido pelas suas funções. “A saúde mental de quem lidera é estratégica: para a pessoa, mas também para a organização. Criar um espaço clínico à altura dessa responsabilidade era urgente”, sublinha.

A criação de um programa deste tipo em Portugal é uma resposta dirigida a um fenómeno silencioso, mas cada vez mais visível, entre os que assumem responsabilidades elevadas e que nem sempre reconhecem, a tempo, os sinais de colapso iminente.