Cerca de 52% dos profissionais de saúde apresentam sinais de exaustão física ou psicológica e burnout relacionado com o exercício da sua atividade durante a pandemia de COVID-19. Os profissionais que estão “na linha da frente do combate” são os mais afetados, evidenciando sinais significativamente mais elevados não só de burnout, mas também de stress e de ansiedade.

Estes são resultados preliminares do estudo “Impacto da COVID-19: o papel da resiliência na depressão, na ansiedade e no burnout em profissionais de saúde”, desenvolvido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), CINTESIS e Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto (ESE.P. PORTO).

“Importava perceber como se encontravam estes profissionais do ponto de vista psicoemocional, com a introdução gradual de medidas de desconfinamento”, explicam as coordenadoras, Ivone Duarte (investigadora da FMUP e CINTESIS) e Carla Serrão (investigadora da ESE.P. PORTO e do centro de investigação InED).

Em resposta ao questionário online, cerca de 51% dos profissionais de saúde admitem estar em exaustão física ou psicológica e mais de 52% referem estar em burnout por causa do trabalho que desenvolvem, sendo que 35% apresentam mesmo “elevados níveis de exaustão”.

Segundo as coordenadoras do estudo, “estes resultados parecem indicar que a COVID-19 resultou na exacerbação de problemas ao nível da saúde mental, com particular impacto emocional e físico nos profissionais de saúde que se encontram na linha da frente”.

A razão apontada é “a exposição dos profissionais a exigências sem precedentes, como a mortalidade elevada, o racionamento de equipamentos de proteção individual (EPI), a pressão inerente ao sentido profissional de dever para com os doentes, o medo do contágio e dilemas éticos profundos de racionamento do acesso a ventiladores e outros materiais essenciais”, para além da “necessidade de conciliação entre vida familiar e profissional”.

De acordo com as investigadoras, a capacidade de resiliência e a satisfação com a vida podem estar, de algum modo, “a amortecer o impacto da COVID-19”. Apesar da exaustão física e psicológica manifestadas, “cerca de 80% dos profissionais de saúde consideram-se capazes de enfrentar situações difíceis e potencialmente stressantes”.

O questionário foi realizado entre os dias 9 e 18 de maio e responderam quase 1500 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, farmacêuticos e técnicos de diagnóstico e terapêutica. Destes, 28% trabalham diretamente com pessoas infetadas com o novo coronavírus (SARS-CoV2), 23% já fizeram o teste à infeção e 75% consideraram ter os equipamentos de proteção individual necessários para o desempenho da sua atividade profissional.

O grupo de investigação irá agora centrar a sua atenção sobre as características que poderão interferir nas diferenças registadas ao nível da saúde mental dos profissionais que se encontram na linha da frente da luta contra a COVID-19 e dos que não estão diretamente envolvidos, tendo como próximo objetivo “apoiar o seu bem-estar psicológico e resiliência e garantir a sua recuperação gradual e global”.