Com o objetivo de conhecer a satisfação dos médicos internos com a sua formação, o Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI) da Ordem dos Médicos realizou, pelo segundo ano consecutivo, o Inquérito de Satisfação do Internato Médico 2022, tendo obtido 1.594 respostas, que representam 19% do total de internos, com uma média de idade de 30 anos.

Segundo o estudo, “a maioria dos médicos internos inquiridos encontra-se satisfeita com o internato médico, mais concretamente com a especialidade (pontuação de 4,11, numa escala de 1 a 5)” e com o orientador de formação (4,12).

A satisfação com o serviço de formação, embora ainda seja positiva, é mais reduzida (3,63).

Os aspetos mais notórios relacionados com a menor satisfação com o serviço prendem-se com o pouco apoio financeiro e/ou logístico à realização ou participação em atividades formativas (2,15) ou científicas (2,01), além da inexistência de recursos científicos como biblioteca e acesso a literatura atualizada em quantidade suficiente para a promoção de uma formação adequada (2,72) e da inexistência de um sistema de reporte de incidentes (3,10).

Em declarações à agência Lusa, o presidente do CNMI, Carlos Mendonça, adiantou que os resultados globais do inquérito são “muito semelhantes” aos de 2021, mas desde então as instituições não encontraram soluções .

“Claro que as medidas demoram tempo a ser concretizadas e a podermos ter reflexo das mesmas, mas neste pequeno intervalo de tempo podemos assumir que as coisas acabam por ser muito semelhantes entre os dois anos”, disse Carlos Mendonça.

Segundo o responsável, “existe alguma diferença entre aquilo que é a relação com a especialidade e com as pessoas que apoiam na formação e aquilo que são depois os serviços e as instituições onde são formados”, destacando-se a ausência de tempo protegido para o estudo autónomo integrado no seu horário de trabalho semanal, e a falta de apoio financeiro e mesmo logístico para participar em atividades formativas e científicas.

Mendonça diz que estas críticas são “muito preocupantes” porque o estudo autónomo e as atividades formativas e científicas são áreas fundamentais para a formação médica.

O estudo revela as dificuldades que os internos vivem diariamente para conseguir, além do trabalho, “concluir aquilo que é a vertente formativa” e por isso ficam menos satisfeitos “porque não têm tanto apoio para a sua concretização”.

Na análise de satisfação com as instituições, mais de metade dos hospitais obteve um nível de satisfação inferior a 3,5, numa escala de 1 a 5.

O Hospital de Vila Franca de Xira e o Hospital Distrital de Santarém foram as duas instituições com grau de satisfação mais baixo, respetivamente de 2,44 (vs. 3,47 em 2021) e 2,17 (vs. 2,58 em 2021), indica o estudo, salientando a existência de uma maior variação dos níveis de satisfação entre as diferentes instituições hospitalares (2,17-4,60) face àqueles obtidos para as instituições tipo Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) (3,00-4,50).

Aludindo aos hospitais que tiverem um grau de satisfação mais baixo, entre os 42 hospitais avaliados, Carlos Mendonça afirmou que estes hospitais têm habitualmente maiores dificuldades, mas ressalvou que “acaba por ser uma perceção empírica”: “Desde logo porque os hospitais de Santarém e de Vila Franca de Xira são mais pequenos do que, por exemplo, os grandes hospitais da capital e, portanto, têm necessariamente menos internos e uma menor diversidade de especialidades”.

Por outro lado, apontou, os grandes hospitais também não ocupam nenhuma das posições cimeiras deste ‘ranking’”, liderado pelo Hospital da Luz, com o Centro Hospitalar Universitário do Porto a aparecer na 13.ª posição e o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa norte na 29.ª posição, por exemplo.

“Acreditamos que as grandes instituições acabam por, de uma forma global, oferecer mais possibilidades e oportunidades aos médicos internos, mas muitas vezes isto também traz outros problemas inerentes ao facto de serem instituições demasiado grandes” e com maior dificuldade na gestão dos profissionais, referiu.