Os relógios vão atrasar 60 minutos na madrugada do próximo domingo em Portugal para dar início ao horário de inverno, segundo o Observatório Astronómico de Lisboa. Em Portugal Continental e na Região Autónoma da Madeira, os relógios deverão ser atrasados uma hora quando for 02:00 de domingo, passando a ser 01h00.
Na Região Autónoma dos Açores, a mudança será feita às 01h00, passando para a 00h00. A hora legal voltará depois a mudar a 28 de março 2021, para o regime de verão.
O atual regime de mudança da hora é regulado por uma diretiva (lei comunitária) de 2000, que prevê que todos os anos os relógios sejam, respetivamente, adiantados e atrasados uma hora no último domingo de março e no último domingo de outubro, marcando o início e o fim da hora de verão.
Miguel Meira Cruz, especialista em Medicina do Sono, não tem dúvidas: a mudança de hora tem impactos negativos na saúde. "Apesar do impacto ser claramente maior no recuo que exigimos ao tempo em meados de março, qualquer das direções em que se proceda uma mudança súbita num relógio de adaptação lenta como o que temos no cérebro, tem prejuízos significativos e potencialmente graves", adverte.
O especialista afirma que uma hora a mais de sono com a mudança de hora no inverno pode, em teoria, promover o bem-estar de quem se encontra privado desta necessidade, sendo o impacto deste benefício maior nas pessoas que se deitam mais tarde e tendencialmente se levantam mais tarde.
"Os matutinos privados de sono, podem sofrer mais nos dias subsequentes à mudança para a hora de inverno", dado que para "além da menor flexibilidade na resposta a mudanças, as condicionantes impostas pelo novo horário afetam o humor", explica o presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono.
Sintomas provocados pela mudança de hora
Meira da Cruz aponta alguns sintomas causados pela alteração da hora, como prevalência de alguns tipos de dores de cabeça, nomeadamente a cefaleia hípnica (surge durante o sono) e a cefaleia em salvas (dor muito forte só num lado da cabeça).
Segundo o especialista em medicina de sono, "estas condições são frequentemente desencadeadas por alterações nos ritmos circadiários estabelecidos naturalmente". Uma vez que a capacidade de alerta da pessoa oscila com o "caráter circadiário" e com o aumento do tempo na escuridão, o risco de acidentes é também maior.
Para o especialista, a mudança da hora "é mais um exemplo do predomínio de interesses económico-financeiros, que vigora no mundo, em detrimento daqueles dirigidos à promoção da saúde". "Efetivamente a alteração proposta originalmente por Benjamim Franklin, perspetivava a rentabilização de energia luminosa poupando gastos", mas "em rigor, não só não se confirmaram os ganhos teorizados, como se tem vindo a descobrir perdas importantes associadas à alteração brusca da hora", comenta.
Grupos populacionais mais afetados
“Mudar a hora duas vezes por ano pode ser, de facto, bastante nocivo sobretudo para alguns grupos populacionais”, por exemplo, pessoas vulneráveis em relação ao sono, pessoas imunodeprimidas ou pessoas mais velhas. Explicando que o corpo humano tem “milhares de ritmos”, o especialista referiu que existe a necessidade de que toda a vida no organismo “se sincronize”.
“Quando há alguma instabilidade num relógio biológico que nós temos central, no cérebro, há uma instabilidade nesse maestro, que é o principal relógio biológico, de orquestrar todos os outros relógios biológicos”, disse, acrescentando que a alteração da hora “pode levar a consequências que podem, em algumas circunstâncias, ser dramáticas, de facto”.
O coordenador da investigação apontou que a discussão da mudança da hora está ligada “essencialmente ao sono”, mas que estas alterações podem ter efeitos, por exemplo, ao nível “da predisposição para o cancro” ou da frequência com que ocorrem episódios cardíacos agudos, como os enfartes.
“A agressão maior não é exatamente nós mudarmos a hora, porque adaptar-nos-íamos, uns mais depressa e outros menos depressa. A questão é que duas vezes por ano ora andamos para a frente, ora andamos para trás, e exigimos que os nossos genes, que são coisas que demoram muitos, muitos anos a adaptar, se adaptem imediatamente. E isso não acontece”, indicou.
Assim, “seguramente era menos perigoso se mudasse uma vez de dois em dois anos”, ou até mais espaçadamente, advogou, afirmando que o desejável seria a permanência “no horário de inverno, porque é aquele que mais se coaduna com o horário real do sol”.
Também um estudo com base em dados recolhidos em território brasileiro concluiu que o corpo humano precisa de pelo menos 14 dias para se adaptar totalmente à mudança de horário. Enquanto isso, são comuns sintomas como a falta de atenção, dificuldades de memorização e sono fragmentado.
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