O Papilomavirus Humano (HPV) não escolhe idades ou género, é silencioso, e pode provocar diversos tipos de cancro. De acordo com Ana Gonçalves Andrade, ginecologista da Unidade de Patologia do Colo da Maternidade Alfredo da Costa, o HPV é responsável pela quase totalidade dos cancros do colo do útero, a segunda causa de morte por cancro em mulheres entre os 25 e os 45 anos. Por isso, a médica defende o reforço da prevenção e da vigilância.
“As mulheres com rastreio positivo para HPV de alto risco devem ter uma vigilância clínica mais regular para que o médico possa ponderar a melhor abordagem em função do risco, e assim evitar que a infeção evolua para uma doença maligna, alerta a médica, em vésperas de mais um Dia Internacional de Consciencialização sobre o HPV, que se assinala a 4 de março.
Ana Gonçalves Andrade explica que esta vigilância não só previne uma evolução para o cancro do colo do útero, como evita tratamentos desnecessários e reduz os níveis de ansiedade associados a um rastreio positivo. “Apesar de sabermos que 80 a 90% das infeções podem regredir espontaneamente, a vigilância regular (wait and see ou esperar para ver) pode ser difícil de aceitar pela doente. Mas, nesta fase, é fundamental explicar à doente que, consoante o tipo de lesão identificada, podem não ser necessários tratamentos invasivos, como a cirurgia, e que existem outras formas de gerir e tratar a infeção até à cura efetiva.
De acordo com a especialista cerca de 80% das pessoas sexualmente ativas terá, pelo menos, um episódio de infeção pelo papilomavirus humano (HPV) durante a vida. Existem mais de 200 tipos diferentes, mas só alguns com potencial cancerígeno. “Uma vez que a infeção persistente por HPV promove o desenvolvimento do cancro do colo do útero e que depende, em parte, do status imunitário do aparelho genital, estratégias que permitam melhorar a imunidade vaginal, equilibrando o seu microbioma, podem ser importantes na prevenção da infeção persistente e na progressão de lesões de baixo risco, salienta.
A estratégia para a eliminação do cancro do colo do útero assenta em três pilares: prevenir a infeção HPV, diagnosticar lesões precursoras e tratar lesões com elevado risco de progressão. A vacinação contra o HPV é a base da prevenção primária. Disponível em Portugal, a vacina nonavalente, incluída no Programa Nacional de Vacinação, cobre os serotipos responsáveis por 90% dos cancros do colo do útero.
A implementação do rastreio permite identificar as mulheres em risco de desenvolver cancro do colo do útero e, ao vigiá-las, reduzir a sua incidência e mortalidade. Daí que seja importante a vigilância da doente em Unidades especializadas em patologia do colo, para ir avaliando a evolução da infeção e de eventuais lesões. Estratégias de intervenção terapêutica, como produtos de aplicação vaginal, podem ser utilizados como forma de estimular a regeneração dos tecidos, potenciando a neutralização natural do HPV, e, ao mesmo tempo, diminuir os níveis de ansiedade. Por exemplo, diversos estudos indicam que o carboximetil beta-glucano, um polímero hidrofílico mucoadesivo, contribui para reequilibrar o microbioma vaginal e apoia a regeneração das células que revestem o colo do útero*. Contudo, alerta que a sua utilização não exclui a necessidade de manter uma vigilância clínica regular em centros diferenciados.
Ana Gonçalves Andrade sustenta que, “existem atualmente um conjunto de medidas preventivas custo-eficazes que tornam o cancro do colo do útero uma doença evitável”. E relembra que “a consciencialização da população para a importância da infeção HPV é fundamental para uma adequada adesão a todas estas medidas preventivas e para tornar o cancro do colo do útero uma doença do passado”.
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