A pandemia da covid-19 trouxe vários desafios às pessoas com Parkinson: o número de diagnósticos diminuiu, as consultas atrasaram-se e as condições psicológicas e físicas deterioraram-se.

É, por isso, fundamental olhar para os doentes não covid e pensar numa estratégia de recuperação de tudo o que ficou para trás, porque nenhum doente pode ficar para trás!

A abertura dos serviços tem de ser mais célere. Chegam-nos relatos de várias pessoas que ainda não conseguiram consultas no hospital, ou cujas consultas são desmarcadas, permanecendo há mais de 1/2 anos sem consultas. O mesmo se passa com alguns centros de saúde.

O difícil acesso às terapias complementares, como a fisioterapia e a terapia da fala, que já se fazia sentir antes da pandemia, agravou-se, levando a uma diminuição da qualidade de vida. Já no âmbito psicológico, para além do aumento da ansiedade, que é extremamente prejudicial, levando a um escalar dos sintomas físicos, muitas pessoas estão a sofrer de apatia e solidão.

A solidão e o isolamento podem ser características psicológicas da doença de Parkinson. Ainda persiste estigmatização associada à doença de Parkinson, por isso, muitas pessoas tendem a isolar-se em casa, levando inclusivamente à depressão. Esta sintomatologia agravou-se durante a conjuntura pandémica e, apesar de já existir uma luz ao fundo do túnel, com a endemia viral à vista, ainda existem muitas pessoas a lutarem contra estes sentimentos e esse fim ainda não está à vista.

As pessoas perderam qualidade de vida e ainda não a recuperaram e, consequentemente, os pedidos de apoio são recorrentes.

Ana Botas, Presidente da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDPk).
Ana Botas, Presidente da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDPk).

Para contrariar os efeitos da pandemia, desenvolvemos projectos que ajudam a minimizar os seus impactos, quer no âmbito físico, quer psicológico. Tivemos de repensar o nosso lema “Diga não ao isolamento, venha até nós”. Se as pessoas não podiam vir, tínhamos nós de ir (até elas). Assim, o nosso lema tornou-se “Diga não ao isolamento, nós vamos até si!”.

Deste modo, a associação fez nascer o projecto “Lado a Lado”, que tem como objetivo facilitar a fase de aceitação e aumentar o apoio psicológico, fundamental não apenas numa fase inicial da doença, mas também para combater o isolamento e promover a melhoria da qualidade de vida. Foi ainda criado o projeto “Pára-quedas” para colmatar as necessidades criadas pela ausência de fisioterapia. O objetivo passa por capacitar todos os doentes para que saibam prevenir as quedas e, caso não consigam, gerir o processo de recuperação. Actualmente, estes dois projetos continuam activos via online e por telefone. O telefone foi essencial para chegar a todos aqueles que não têm acesso aos meios telemáticos, por razões várias. As sessões de apoio psicológico via telefone são das mais concorridas.

Se os meios telemáticos foram uma mais-valia durante o confinamento, as sessões presenciais fazem a diferença. Por isso, assim que tivemos todas as questões de segurança garantidas, voltámos a dinamizar as sessões de fisioterapia e terapia da fala presenciais, bem como algumas actividades lúdicas, como o Projeto Pingue-Pongue ou o Dançar com Parkinson e iniciámos aulas de Pilates.

O retorno, quer dos nos nossos projectos à distância, quer em relação nossos projectos presenciais, tem sido muito bom, por isso, estamos com todos os projectos activos.

Para a APDPk, o mais importante é utilizar todas as ferramentas que temos à nossa disposição – os meios presenciais, os meios telemáticos e o telefone – e utilizá-los para chegar a toda a comunidade, de modo que ninguém fique de fora.

Um artigo de Ana Botas, Presidente da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDPk).