A doença aterosclerótica dos vasos sanguíneos é um processo contínuo ao longo da vida e, por isso mesmo, faz parte do nosso envelhecimento. Todo este processo está sujeito a múltiplas influências e interferências, estando há muito tempo identificadas as principais, a que habitualmente chamamos factores de risco cardiovascular.
Sabendo que, sobre alguns dos principais factores de risco, como a genética ou a idade, não conseguimos interferir, temos de dar especial atenção aqueles que podemos modificar, seja com alterações dos hábitos alimentares e de estilo de vida, seja com intervenção medicamentosa.
Dentro destes últimos, temos de destacar o colesterol elevado, por vezes também referido como hipercolesterolemia ou dislipidemia, que é um dos mais importantes factores de risco modificáveis para as doenças cardio e cérebro-vasculares, estas as principais causas de morte em Portugal.
A sua importância advém de vários factores, sendo talvez o mais relevante o facto de haver uma correlação muito directa, entre os níveis de colesterol no sangue e a incidência das referidas doenças e, inversamente, de estar claramente demonstrado que, baixando os níveis de colesterol se pode diminuir sua taxa de mortalidade. Acresce que, actualmente, temos medicamentos que, para além de serem eficazes, são bastante seguros, permitindo uma intervenção no sentido de minorar os efeitos da doença aterosclerótica.
Outro facto da maior importância, prende-se com o facto de não haver sintomas directamente relacionados com os níveis elevados de colesterol. De facto, quando aparecem os sintomas da doença aterosclerótica, isto significa habitualmente uma doença avançada e um risco cardiovascular muito elevado. Como facilmente se compreende, o melhor caminho é prevenir, avaliando periodicamente os níveis de colesterol, para poder ter uma intervenção significativa no prognóstico destas situações.
Frequentemente se põe a questão dos valores que se pretendem como bons, por serem seguros e eficazes, no tratamento da hipercolesterolemia.
Esta é uma questão que está longe de estar fechada, tendo vindo a ser considerados normais, sucessivamente, valores mais baixos do colesterol. Apesar de estarem definidos valores alvo em face de algumas patologias, as evidências dos estudos e da prática clínica, apontam para o conceito de “quanto mais baixo melhor”. E não há que ter grandes receios sobre isto, já que nascemos com níveis bastante baixos de colesterol e isso nunca interferiu com o crescimento e desenvolvimento de ninguém.
Outro conceito que está a ganhar força, prende-se com a importância do tempo de exposição a determinado nível de colesterol. De facto, os estudos e observações parecem evidenciar que, quanto mais anos se tiver um nível elevado de colesterol, maior a incidência de doença cardiovascular e, inversamente, quanto mais tempo se tiver um nível baixo de colesterol, menor o risco cardiovascular.
Estamos, portanto, perante um verdadeiro problema de saúde pública, que temos o dever de encarar. Existem meios de diminuir o número de enfartes do miocárdio (ataques cardíacos) e de acidentes vasculares cerebrais (tromboses), principais causas da mortalidade e morbilidade no nosso país.
Tal como começámos por dizer no início, a doença aterosclerótica é multifactorial. O colesterol é um factor muito importante, mas apenas um, dos muitos que interferem no aparecimento e evolução, das lesões arteriais ateroscleróticas. Cada vez mais se sabe mais da importância da alimentação e do estilo de vida na saúde das pessoas. Essa é a primeira parte do problema e está dependente de si.
Um artigo do médico Nuno Bragança, especialista em Medicina Interna.
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