As doenças ateroscleróticas incluem a doença cardíaca coronária (DCC), como o enfarte agudo do miocário (também chamado ataque cardíaco) que afeta as artérias coronárias, que fornecem sangue ao coração; a doença cerebrovascular, como o acidente vascular cerebral (AVC) que afeta os vasos que fornecem sangue ao cérebro e a doença arterial periférica que afeta os vasos que fornecem sangue às pernas.

Outros tipos de DCV incluem a insuficiência cardíaca (quando o coração é incapaz de bombear adequadamente), as doenças das válvulas do coração e doenças do músculo cardíaco.

As DCV são a causa de morte mais comum na Europa. Segundo a Fundação Portuguesa de Cardiologia, as DCV são responsáveis por mais de 20 mil vítimas mortais do sexo feminino a cada ano, um número superior quando comparado com o universo masculino.

Esta realidade é ainda mais preocupante se tivermos em conta que patologias como o enfarte agudo do miocárdio, cardiopatia hipertensiva e AVC matam aproximadamente o mesmo número de mulheres que todas as formas de cancro, doença respiratória crónica e diabetes combinados.

A maior mortalidade por DCC no sexo feminino quando comparada com o sexo masculino prende-se por vezes com o facto de as mulheres diferirem dos homens no que diz respeito aos sintomas da DCC: há menos mulheres a apresentar os sintomas clássicos da dor no peito, relatam com frequência dores nos braços, costas ou maxilares, falta de ar, fraqueza, palpitações ou tonturas. A única forma de contrariar esta estatística é aprender a identificar e interpretar os sintomas destas doenças nas mulheres e apostar na prevenção de fatores de risco cardiovasculares.

Estes últimos dividem-se em fatores de risco modificáveis tais como açúcar elevado no sangue (diabetes), colesterol elevado, hipertensão arterial, excesso de peso e obesidade, tabagismo, abuso de bebidas alcoólicas e pouco exercício físico (sedentarismo); e fatores de risco não modificáveis tais como a idade, sexo e genética (inclui a história familiar de doenças cardiovasculares).

A ansiedade e depressão são também agora reconhecidas como fatores importantes que contribuem para a ocorrência e prognóstico das DCV e que têm vindo a aumentar devido às múltiplas exigências das sociedades modernas, em especial para a população do sexo feminino.

Vários fatores reprodutivos femininos, incluindo menarca (primeira menstruação) precoce, menopausa precoce, diabetes gestacional ou abortos de repetição, associam-se a risco aumentado de DCV. A prevenção das DCV é prejudicada pelo facto de muitas mulheres não perceberem que as doenças cardiovasculares são a principal ameaça à sua saúde ou pelo facto de serem menos propensas a cumprir as orientações para a prática de exercício físico.

Quase 75% dos casos das DCV em mulheres podem ser evitadas com melhores opções de estilo de vida desde cedo, tais como praticar atividade física regular (pelo menos 30 minutos, 5 vezes por semana), não fumar, ter hábitos alimentares saudáveis (comer mais fruta, vegetais, fibras e peixe e reduzir o consumo de gorduras, açúcar e sal), controlar o peso de forma a manter níveis de pressão arterial, colesterol e glicémia (açúcar no sangue) dentro da normalidade, terem bons hábitos de sono e reduzirem ambientes de stress. Por vezes é necessário recorrer a medicamentos para controlar os fatores de risco das DCV.

É urgente melhorar a literacia em saúde nas mulheres, desde a vigilância da gravidez, consultas de saúde infantil e ao longo da vida adulta e pós-menopausa.

Um artigo da médica Susana Corte Real, Médica especialista em Medicinal Geral e Familiar.