Os clínicos alegam que as determinações técnicas para os serviços de obstetrícia que efetuam mais de 1.200 partos por ano impõe a presença física de três especialistas nos serviços de urgência, alertando que neste Centro Hospitalar do distrito do Porto, que fechou 2019 com a realização de 1.260 partos, só há dois obstetras nas escalas de urgência.

"Os obstetras entregaram já em dezembro do ano findo um pedido de escusa de responsabilidade ao diretor de serviço, e posteriormente ao presidente do conselho de administração e ao diretor clínico, e denunciaram a situação à Ordem dos Médicos, esperando que a segurança das parturientes fale mais alto para o conselho de administração do que os cifrões", pode ler-se no comunicado do sindicato.

No mesmo texto, é vincado que "o serviço de ginecologia/obstetrícia, apesar de ter um quadro médico envelhecido (mais de metade do Serviço tem idade superior a 50 anos), tem feito um esforço extraordinário para o desenvolvimento do mesmo", embora alertando para os riscos da sobrecarga de trabalho.

"Os obstetras têm assim que continuar a desdobrar-se na realização de várias atividades em simultâneo, aumentando assim o risco de haver um acidente, que pode ter consequências graves".

Contactado pela Lusa, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Gaspar Pais, confirmou a receção do pedido de escusa de responsabilidade assinado por alguns médicos do serviço, mas vincou que a "segurança é a prioridade número um da unidade".

"As recomendações apontam para a presença de três médicos obstetras na urgência, quando se regista um intervalo entre 1.200 e 2.200 partos por ano. Nós, em 2019, pela primeira vez em 10 anos, ultrapassamos, por pouco, esse limite inferior, com 1.260 partos. Foi um número atípico e por isso iremos avaliar nos próximos meses se a tendência se mantém", disse o administrador.

Gaspar Pais considerou "um pouco precipitado reforçar o quadro sem monitorar se os números de partos mantêm a robustez do ano passado, até porque o número 1.200 partos só foi ligeiramente ultrapassado", mas garantiu que, se tal se verificar, "o hospital irá agir".

"Já tivemos uma reunião com a Ordem dos Médicos e estamos em sintonia. A nossa missão é dar segurança aos utentes e isso nunca será posto em causa. Nunca dissemos que não faríamos um eventual reajuste, mas temos, primeiro, de acompanhar e avaliar a situação", garantiu o presidente do conselho de administração da unidade.

Assim, se nestes primeiros dois a três meses de 2020 o Centro Hospitalar que serve as duas cidades do litoral norte do distrito do Porto, tiver uma média superior a 100 partos por dias, Gaspar Pais garantiu que as escalas serão reforçadas.