"Eu acho que respondemos às solicitações. Nós tínhamos visto o que tinha acontecido noutros países, nomeadamente em Itália e em Espanha. Num tempo muito curto, reestruturámos o hospital e preparámo-nos para a chegada da COVID-19, e acho que conseguimos atingir os objetivos, que era ter capacidade de resposta", disse hoje à agência Lusa Luís Ferreira, diretor do serviço de pneumologia do Hospital Sousa Martins (HSM) e coordenador da equipa multidisciplinar para a COVID-19 na Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda.

Segundo o responsável, o hospital "teve sempre" capacidade de resposta, "quer a nível de internamento, quer a nível de cuidados intensivos".

"E acho que, nesta primeira fase, a nossa missão foi cumprida com sucesso, na medida em que nunca houve nenhuma falha que nos possa ser atribuída de alguma dificuldade de assistência. Isso não aconteceu", declarou.

Covid-19: Hospital Sousa Martins na Guarda
Luis Ferreira, diretor do Serviço de Pneumologia e da área COVID-19 do Hospital Sousa Martins da Guarda créditos: MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA

Luís Ferreira reconhece que a existência do novo bloco do HSM, inaugurado em junho de 2014, "foi uma mais-valia enorme" para o trabalho realizado no hospital da Guarda que, no início de março, foi ativado como unidade de segunda linha para contenção da infeção pelo coronavírus.

"Porque nós conseguimos ter uma área COVID e uma área não COVID completamente separada, conseguimos ter dois blocos operatórios completamente autónomos, conseguimos ter duas unidades de cuidados intensivos e, se não fosse esta estrutura, nós nunca conseguíamos fazer isso. E mesmo a definição dos circuitos, haver corredores separados para doentes não COVID e doentes COVID, se não houvesse esta estrutura isso era impossível de fazer, era muito difícil de fazer", justificou o responsável.

110 camas, 12 de cuidados intensivos

O HSM foi preparado para ter uma capacidade de 110 camas para doentes COVID, incluindo 12 camas de cuidados intensivos mas, com o abrandamento de casos infetados, reduziu a lotação do internamento para 40 camas.

"Neste momento, temos quatro internados e já não temos nenhum nos cuidados intensivos. Estamos numa fase residual comparativamente aos 40 que chegámos a ter internados em simultâneo", disse Luís Ferreira.

Como no início da pandemia o HSM reorganizou os serviços para responder às necessidades, alguns setores estão agora a retomar aos seus locais de origem, o que já aconteceu com as áreas da pneumologia e da ortopedia.

Covid-19: Hospital Sousa Martins na Guarda
Uma técnica do Hospital Sousa Martins da Guarda créditos: MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA

"Lentamente, vamos regressando, vamos diminuindo a área COVID e vamos reafetando os profissionais de saúde" aos serviços de origem, rematou o coordenador da equipa multidisciplinar para a COVID-19 na ULS da Guarda.

A presidente do Conselho de Administração da ULS, Isabel Coelho, referiu à Lusa que "os últimos três meses foram um grande desafio para todos os profissionais" da instituição.

"Foram dias muito intensos, mas nos quais contámos com uma disponibilidade total por parte de todos os funcionários e colaboradores. Em menos de uma semana transformámos um hospital em dois: um COVID e outro não COVID. Claro que isto só foi possível graças ao trabalho de todos e porque dispúnhamos de algum espaço livre, no designado Pavilhão Cinco", explicou.

Nove mil testes na Guarda

O Laboratório de Patologia Clínica da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda realizou cerca de nove mil testes de diagnóstico desde o início da pandemia causada. "Nós, desde o início, já processámos aproximadamente nove mil amostras" de pessoas da área de abrangência da ULS da Guarda e de outros centros hospitalares da zona Centro (Castelo Branco, Covilhã, Viseu e Aveiro), disse hoje à agência Lusa a diretora Fátima Vale.

Segundo a responsável pelo Laboratório de Patologia Clínica da ULS/Guarda, a capacidade de resposta do serviço é de 300 amostras diárias.

"Neste momento, as coisas estão mais calmas e estamos a processar muito menos amostras. A nível nacional, as coisas estão um bocadinho mais calmas e a necessidade de testes está a ser menor. E, neste momento, praticamente só estamos a fazer amostras do distrito da Guarda", relatou.

Covid-19: Hospital Sousa Martins na Guarda
Uma técnica superior faz análises para despistagem do virus da covid-19 no Hospital Sousa Martins da Guarda créditos: MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA

O laboratório também está a efetuar, desde o dia 07 de maio, exames serológicos ao novo coronavírus.

Fátima Vale referiu que o Laboratório de Patologia Clínica funciona diariamente com um quadro de 22 técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, cinco técnicos superiores de saúde e três especialistas.

A ULS da Guarda (que abrange 13 concelhos do distrito da Guarda, exceto o de Aguiar da Beira, que pertence ao Agrupamento de Centros de Saúde do Dão - Lafões), gere os hospitais da Guarda (Sousa Martins) e de Seia (Nossa Senhora da Assunção), e também 12 centros de saúde e duas unidades de saúde familiar (A Ribeirinha, na cidade da Guarda e a "Mimar Mêda", na cidade de Mêda), abrangendo cerca de 142 mil habitantes.

Para dar resposta à pandemia no território de abrangência, a ULS colocou em funcionamento duas unidades móveis para realização de rastreios, dois centros em regime de "Drive Thru" (um no quartel dos Bombeiros da Guarda e outro na Associação Empresarial NERGA) e quatro ADC - Áreas Dedicadas COVID (Gouveia, Trancoso, Pinhel e Guarda, tendo esta última sido desativada no dia 18 de maio).

"Até ao momento, temos cerca de dois mil testes efetuados", disse à Lusa Bruno Macedo, enfermeiro adjunto da ULS responsável pelas unidades móveis e pelos centros de atendimento COVID.

As equipas de rastreio iniciaram funções em abril e surgiram para dar resposta à comunidade nas ADC e em instituições de apoio a idosos, para situações identificadas pela Saúde Pública e pelo Serviço Nacional de Saúde.

A iniciativa revelou-se "bastante importante" no combate à pandemia, segundo o responsável.

"Tudo isto fez com que nós conseguíssemos dar resposta, muito atempadamente, a todas as situações. E quanto mais precocemente nós conseguimos identificar casos positivos, mais rapidamente há contactos, há seguimento, há depois a intervenção por parte da Saúde Pública, há o isolamento profilático", justificou.

Na região da Guarda "há uma redução substancial" de casos, mas as equipas, asseguradas por enfermeiros, mantêm-se ativas, estando diariamente no terreno uma móvel e outra fixa.

Portugal, com 1.263 mortes registadas e 29.660 casos confirmados é o 22.º país do mundo com mais óbitos e o 26.º em número de infeções.

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