O Conselho Europeu de Investigação atribuiu 1,4 milhões de euros a João Conde, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, e 1,5 milhões de euros a Joana Gonçalves de Sá, da Nova School of Business and Economics.
Em declarações à Lusa, João Conde afirmou que o seu projeto se concentra no cancro da mama e usa nanomateriais para chegar ao interior das células dos tumores cancerígenos, que são diferentes entre si, para os identificar através de um “código de barras” que permita um tratamento mais eficaz.
Todos os cancros começam com uma célula “que enlouquece” e começa a multiplicar-se, agregando em torno de si células de tipos diferentes: umas tumorais, outras normais e células do sistema imunitário, que compõem a massa dos tumores e influenciam a maneira como reage a terapias.
Há 10 anos que João Conde usa nanotecnologia aplicada ao cancro, com “partículas de materiais vetores” usados para alterar geneticamente as células tumorais ou aplicar drogas.
Mas o novo uso que pretende dar a essa tecnologia é chegar dentro de cada célula de um tumor para as identificar através de cores, criando um “código de barras” que permita identificá-lo e determinar que tratamento será mais eficaz.
A nanotecnologia permite também, através do uso de dois compostos líquidos que, juntos, se transformam num gel, criar “circuitos genéticos” que alteram a expressão dos genes das células do tumor, aumentando, por exemplo, a expressão dos que estão diminuídos e “ver onde é precisa correção maior”.
Num projeto de cinco anos vai começar-se por usar ratinhos e depois amostras de tecidos de pacientes humanos.
“É um projeto muito complexo, de alto risco, mas de alto ganho”, indicou.
Para Joana Gonçalves de Sá, trata-se de aplicar princípios da epidemiologia às notícias falsas, tratando-as como um vírus que se espalha na era das redes sociais.
Assim, há três fatores essenciais para perceber a sua disseminação: a sua “infecciosidade, o ambiente e a suscetibilidade dos indivíduos”.
Até agora, a perspetiva no combate ao fenómeno das notícias falsas nas redes sociais tem sido “pragmática”, atribuindo às plataformas como o Facebook e o Twitter a responsabilidade de resolver o problema.
Mas a investigadora salienta que “são as pessoas as principais responsáveis por espalhar notícias falsas” e que “quanto mais chocante e surpreendente o título”, maior probabilidade tem de ser partilhado.
No projeto financiado pelos fundos europeus, vai usar-se dados do Twitter e métodos clássicos de investigação em ciências sociais, como entrevistas, usando as redes sociais como “um macroscópio.
O intuito não é criar nenhuma ferramenta para combater ‘fake news’, mas chegar a um “conhecimento fundamental e compreender melhor o comportamento humano”.
Os algoritmos das redes sociais, que escolhem para os utilizadores notícias relacionadas com os seus gostos e preferências, estão a amplificar desvios cognitivos dos humanos, como a tendência de partir de uma opinião e procurar a sua confirmação.
Outro viés cognitivo, conhecido como efeito Dunning-Kruger, faz com que se tenha mais confiança no que se sabe do que conhecimento, o que também se manifesta na disseminação de notícias falsas, como se os humanos não tivessem evoluído para “parar e pensar” perante um título chamativo para determinar se é verdade ou não.
Joana Gonçalves de Sá salientou que o projeto tem implicações éticas, uma vez que se pretende chegar a um conhecimento profundo sobre os utilizadores das redes sociais, que “não pode cair nas mãos erradas”.
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