O fenómeno, traduzido como “desistência silenciosa”, descreve a tendência dos profissionais para a redução das atividades desenvolvidas em contexto laboral para os mínimos legais exigidos, sem necessariamente existir negligência ou dolo. Pese embora este processo sugira passividade, a premissa é simples: ‘acting your wage’, ou seja, realizar as tarefas que são remuneradas e nada além disso. Este movimento implica o balizar da temporalidade trabalho/vida pessoal e a desconstrução da narrativa corporativista da glorificação do trabalho em excesso. “Vestir a camisola” e “dar o litro” são expressões liminarmente rejeitadas pelos defensores dessa nova mentalidade.
As realidades vividas por muitos enfermeiros nos vários contextos de saúde incluem níveis elevados de stress, burnout, ambientes de trabalho tóxicos, incerteza, excesso de carga de trabalho e, frequentemente, falta de reconhecimento profissional. Como resultado potencial, o quiet quitting emerge como uma resposta de autoproteção, onde o enfermeiro cumpre as suas funções básicas, conquanto evita qualquer esforço adicional que possa exacerbar o desgaste físico e emocional.
Torna-se, pois, essencial que os gestores e as organizações de saúde criem ambientes de trabalho que valorizem e apoiem os seus enfermeiros. Isso inclui o reconhecimento da autonomia profissional, a promoção de uma comunicação institucional clara e assertiva, o fomento de recursos logísticos e humanos que permitam o desempenho de funções de maneira segura e satisfatória. O desafio organizacional destaca-se então pela necessidade de conscientização sobre a promoção da saúde mental e o bem-estar dos colaboradores e das estratégias ativas para manter a motivação e o compromisso individual.
Quiet Quitting e o silêncio que ecoa na Enfermagem
Lara Cunha, Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, Research Fellow na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
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