O Reino Unido devolveu 1.400 toneladas de frango do Brasil devido à presença da bactéria salmonela, indicou a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento brasileira, na quarta-feira, em conferência de imprensa. De acordo com Tereza Cristina, num intervalo de 15 meses, o Reino Unido devolveu 16 contentores de frango com salmonela e um contentor com problemas na refrigeração da carne, totalizando 1.400 toneladas de aves.

Que riscos?

A salmonelose é reconhecida como uma das principais infeções transmitidas pelo consumo de alimentos. A maioria das espécies de Salmonella é patogénica para humanos, mas as características e severidade das doenças que originam são variáveis.

Sendo uma infeção uma colonização de um organismo hospedeiro, os efeitos patogénicos de Salmonella só se observam quando são ingeridas bactérias capazes de se multiplicar. Dependendo da espécie envolvida, as infeções por Salmonella podem-se traduzir em diferentes doenças como Febre entérica, Enterocolite, Bacteriemia.

Em algumas situações, as infeções causadas por Salmonella podem degenerar em infeções sistémicas e precipitar várias condições crónicas como a artrite reativa e a síndrome de Reiter.

Os sintomas mais comuns da infeção no ser humano incluem vómitos, diarreia, febre, náuseas e dores abdominais. A taxa de mortalidade nos indivíduos infetados é de 1%.

Fonte: ASAE

A governante abordou o assunto depois de um jornal britânico ter publicado, na quarta-feira, uma reportagem, em parceria com a 'ONG' Repórter Brasil e a organização 'Bureau of Investigative Journalism', dando conta de que o país sul-americano teria "exportado milhares de toneladas de frango contaminado com salmonela nos últimos dois anos", sendo que mais de "um milhão dessas aves" teriam sido enviadas para o Reino Unido.

O frango vetado no Reino Unido voltou para o Brasil e acabou revendido no mercado brasileiro.

"No mercado brasileiro, o produto vetado pode seguir dois caminhos, a depender do tipo de salmonela presente. Se forem bactérias com risco potencial à saúde humana - o que acontece em menos de 1% dos casos, segundo o Ministério da Agricultura -, o frango contaminado é cozido, e a carne é processada em subprodutos, como 'nuggets', salsichas, linguiças e mortadelas de frango", afirmou a ONG.

"Já se a contaminação for por bactérias que, de acordo com os padrões brasileiros, não apresentam riscos à saúde, o produto 'in natura' é colocado no mercado interno e chega aos talhos e supermercados", acrescentou a Repórter Brasil, depois de ter pedido esclarecimentos à pasta da Agricultura e à Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Estas intoxicações alimentares podem matar
Estas intoxicações alimentares podem matar
Ver artigo

Ministério brasileiro descarta riscos

Tereza Cristina destacou ainda, na conferência de imprensa difundida no 'site' do Ministério, que a presença da bactéria de salmonela não coloca em risco a saúde do consumidor caso o produto seja cozinhado.

"Se cozinhar, fritar ou assar não tem problema nenhum. As salmonelas existem, não há problema nenhum", disse a governante.

O Brasil é o maior exportador da carne do mundo, enviando, em média, 337 mil toneladas de frango por mês para o exterior.

Aos jornalistas, a ministra comentou ainda o acordo comercial entre a União Europeia e os países do Mercosul, declarando que não vê entraves às exportações brasileiras.

10 substâncias químicas que são um atentado à sua saúde
10 substâncias químicas que são um atentado à sua saúde
Ver artigo

Tereza Cristina frisou que já existem exigências sanitárias na relação entre os países em causa, e que o acordo não trará mais riscos nesse sentido. "Acho que não muda nada para nós porque onde a produção está, ela tem que estar legalizada. O Brasil tem leis ambientais, como o Código Florestal, e temos que exigir o cumprimento da lei", declarou.

O acordo comercial entre os dois blocos económicos, assinado na sexta-feira passada, depois de 20 anos de negociações, prevê o fim da maioria das taxas de importação entre os países da União Europeia e do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e acesso preferencial por meio de quotas.

Os países signatários comprometem-se também a implementar e cumprir o acordo climático de Paris, que prevê limites à emissão de gases do efeito estufa e um suporte financeiro de países ricos aos mais pobres para se adaptarem às mudanças climáticas e adotarem energias renováveis.

Com AFP